Em Inglês: Persuasion – Jane Austen

Já tinha mais ou menos uns mil anos que eu não escrevia nada sob o título de “Em Inglês” que é um tipo de post que eu comecei a fazer pra recomendar leituras fáceis em língua inglesa pra quem queria treinar o idioma. Persuasion da Jane Austen definitivamente não é um livro de nível de inglês fácil, mas como a experiência lendo em inglês vai ser a parte principal dessa resenha (até mesmo porque esse livro já tem vários posts aqui no blog, inclusive uma resenha) achei que se encaixaria bem nesse título.

Persuasion é o último romance completo escrito pela Jane Austen e foi publicado postumamente. Ele conta a história de Anne Elliott, uma mulher de 27 anos, filha de um baronete vaidoso e irmã de duas mulheres igualmente egocêntricas. A única pessoa que realmente se importa com Anne ao começo do livro e que valoriza suas numerosas qualidades sutis é Lady Russel, uma amiga da família. 7 anos antes do começo da história, Anne fora noiva de um certo capitão Wentworth, bonito, carismático e apaixonado, mas acabou desfazendo o noivado a conselho de Lady Russel, porque, apesar de todas as qualidades pessoais que recomendavam Wentworth, ele era pobre e não havia garantias de quando poderia de fato se casar com Anne. Desde então, Anne passou por maus bocados a ponto de ficar completamente apagada (inclusive fisicamente). O livro não usa essas palavras, é óbvio, mas é provável que Anne tenha sofrido uma depressão. Fato é que foram longos anos de solidão e arrependimento, acompanhando à distância notícias sobre os sucessos do capitão. Até que, por uma reviravolta do destino, a irmã do Wentworth aluga a casa da família Elliot (que, afogada em dívidas, foi obrigada a abrir mão do seu conforto) e Anne se vê, pela primeira vez em todo esse tempo, de novo na companhia do capitão.

Como eu já mencionei, Persuasão já tem resenha (muito mal escrita) no blog porque o li pela primeira vez em 2014, quando minha carreira como fã de Jane Austen ainda não era tão extensa e eu pensava coisas muito diferentes sobre o mundo. Era de se esperar que de lá pra cá minha opinião sobre esse livro tivesse mudado, mas a releitura só confirmou o que eu pensava na época: que é o segundo melhor livro da Austen e seria o primeiro melhor se ela tivesse tido tempo de revisá-lo obsessivamente como revisou Orgulho e Preconceito. É definitivamente o livro mais maduro da autora, tanto pelos temas que são tratados como pela forma como ela os trata. Um exemplo disso são as críticas sociais da autora, que, apesar de ainda serem tão afiadas quanto em suas obras anteriores, tomam um rumo menos caricato. O alvo aqui é a aristocracia inglesa, tão vaidosa e que exagera tanto a sua própria importância, e ela vem nas figuras de Sir Walter Elliot e de sua filha mais velha, Elizabeth, que se creem tão melhores que todos os outros, em posição e beleza, que se isolam em um círculo muito restrito e feito puramente de aparências, sem qualquer afeição real. Mas, como eu disse, a Austen está mais madura, então em vez de termos uma Lady Catherine de Burgh, que é essencialmente uma caricatura, sem qualquer momento de humanização, a gente tem uma Elizabeth solitária e desesperada por amor, por quem o narrador onisciente parece sentir certa piedade. Até mesmo os “vilões” da história, que no caso são o Mr. Elliot e a Sra. Clay, não são reduzidos à sua vilania em última instância, como acontece em vários livros da Austen, até mesmo em Orgulho e Preconceito com o Mr. Wickham. Aqui ambos têm momentos que os tornam mais complexos que isso: Mr. Elliot verdadeiramente afeiçoado a Anne e disposto a levar uma vida de paz doméstica com ela, e a Sra. Clay sendo, algumas vezes, a pessoa menos terrível no círculo familiar dos Elliot.

As opiniões de Austen em relação às classes sociais também parecem ter mudado com a idade, pois esse é o primeiro livro em que o herói é um “self-made man”, que construiu tudo que tem por mérito próprio, trabalhando pesado. Em seus outros livros, a autora não necessariamente advoga em favor do valor do trabalho, apenas denuncia o preconceito daqueles mais abastados, com fortuna de família, contra os que têm que trabalhar pra viver, mas ela mesma parece encantada com esse mundo de mansões ancestrais e dinheiro herdado que faz com que a pessoa possa se dedicar única e exclusivamente a murmurar mal humoradamente em cantos de salões de bailes (desculpa, Darcy, te amo mas você é um mimado). Em Persuasion há um contraste gigantesco entre o caráter e a felicidade daqueles que trabalham para viver (os personagens da marinha), que se despem de preconceitos e criam laços quase familiares com os companheiros de labuta, e aqueles que não se dispõem sequer a sacrificar algum dos seus confortos para manter o nome sem dívidas (os aristocratas). E Anne, criada nesse ambiente frio e artificial em que o caráter e os méritos pessoais pouco importam se a pessoa não tiver um sobrenome importante, anseia pelo mundo em que se pode ser amigo de qualquer um por quem você se afeiçoar.

Outro aspecto em que a maturidade da autora se revela (e que inclusive é comentado em belas palavras na introdução da minha edição) é que nos outros livros da Austen todas as heroínas ainda estão tentando encontrar a sua identidade e seu lugar no mundo e parte do enredo do livro se dedica a suas desventuras nesse processo de descobrimento. Em alguns casos, como é o do Mr. Darcy, o herói também descobre e se confronta com aspectos da sua identidade que ele não conhecia e precisa lidar com eles pra que o final feliz aconteça. No caso de Persuasion, tanto a Anne quanto o Wentworth já conhecem a si mesmos e um ao outro muito bem, sabem dos seus méritos (sem que haja vaidade nisso) e dos seus deméritos, e o que o livro trata é sobre o processo de redescobrimento um do outro pelo qual eles passam, que testa a constância dos seus sentimentos, e de perdão um do outro e de si mesmos que também é necessário pra que eles se permitam uma segunda chance. Como diz a introdução da minha edição, Austen não nos dá mais o “in bloom”, “she gave us roses”.

Nessa releitura também fiquei mais uma vez tocada com o retrato que a Jane faz da solidão da Anne, que não é enxergada nem valorizada, principalmente pela própria família, mas também por outras pessoas. Em um momento especialmente tocante, a Anne, que é a pianista mais talentosa entre os personagens, é apressada a deixar de tocar para dar lugar a uma das irmãs Musgrove, cuja família amorosa a enche de elogios pelas suas habilidades que nem são tão grandes. Anne não se ressente da família Musgrove por isso, eles devem mesmo admirar as pessoas que amam, o que ela sente muito é por ter perdido a única pessoa que compreendia e admirava suas habilidades e que a amava o suficiente pra demonstrar aquele mesmo entusiasmo afetuoso, que era o Capitão Wentworth. Nesse sentido, grande parte do livro transcorre com as pessoas percebendo o valor da Anne, e o Capitão Wentworth deixando novamente de ser imune a ele. E, assim, a Anne ganha nos amigos barulhentos e afetuosos do capitão (que inclusive tem uma irmã cujo casamento parece refletir a opinião da Jane Austen sobre como um casamento entre iguais deve ser, e que nunca chegamos a conhecer a fundo porque seus livros terminam no casamento) a família, o calor humano, a receptividade e o amor que ela nunca teve em casa, e isso, além do amor do próprio Capitão, é o que nos dá essa euforia final pela heroína, que acompanhamos vagar triste e sozinha pelo seu casarão de nome eufônico, e que me fez chorar um pouco de alegria por ela.

Depois desse sentimentalismo todo, vamos ao inglês. Eu estava bem amedrontada de ler um clássico do século XIX em inglês porque provavelmente haveria muitas palavras em desuso e mais rebuscadas do que o meu vocabulário alcança, mas tirando algumas construções em desuso que eram facilmente compreensíveis pelo contexto, somente algumas palavras pontuais me deixaram confusa, mas foram tão poucas que não atrapalharam a leitura. Foi muito bom também ver a diferença de sentido que às vezes a tradução provoca, mesmo que você tenha lido originalmente em uma tradução boa, como eu fiz. Por fim, me senti muito mais próxima da voz narrativa da Jane Austen nesse livro, porque parecia que ela estava falando pessoalmente comigo, sem intermediários e em um tom confessional, talvez porque o inglês seja uma língua que força um discurso mais pessoal e direto porque não tem tantas formas de apagamento do eu que está falando. E GENTE, A CARTA DO CAPITÃO É MIL VEZES MAIS BONITA NO ORIGINAL E EU NÃO ACHAVA QUE ISSO FOSSE POSSÍVEL PELAMORDEDEUS ALGUÉM ME AJUDAAAAA. Resumindo, recomendo a leitura em inglês pra quem já tem um vocabulário avançado e que gosta de clássicos.

Especial Jane Austen – O Retorno

Talvez vocês não saibam, mas eu escrevi uma série de posts especiais sobre a Jane Austen por aqui em 2015. Nesses posts eu falei sobre os livros, as adaptações e tudo mais que consumi sobre a Jane Austen, além de experiências pessoas como fã na internet fazendo amizade com outros fãs na internet. São posts que me causam muito orgulho e que eu gosto de reler de vez em quando porque eles registram a minha história literária mais prolífica, meu amor mais duradouro e constante nos livros. De lá pra cá, no entanto, descobri várias outras coisas, assisti novas adaptações e li outros livros e agora quero fazer um novo balanço não só das coisas que realmente consumi nesse meio tempo, mas também das que adquiri ou descobri e quero consumir. Vai ser tudo fora de ordem e muito longo, mas perdoem a bagunça e não desistam de mim.

Sanditon (2019)

Sanditon é uma série britânica com 8 episódios baseada no romance inacabado de mesmo nome que teria sido o último que a Jane escreveu. Fica muito claro o ponto da história em que ela deixa de ser fielmente baseada na obra da Austen e passa a permitir que a criatividade dos roteiristas corra solta, apesar do fato de eu ainda não ter lido o livro pra ter certeza. Esse ponto é bem prematuro, ocorre no começo do primeiro episódio, que é engraçado e sutil como a Austen sempre foi, enquanto o resto da série é bem mais dramática do que ela jamais seria e trata de temas que ela jamais trataria, como racismo/escravidão e sexo. A série inclusive tem cenas relativamente explícitas de sexo que podem ofender a galera mais puritana que acredita que os livros da autora são desprovidos de qualquer sombra de sexualidade. O ritmo da série é bom e o elenco também, mas há muita coisa desnecessária para alongar a história e deixar espaço pra uma segunda temporada que nem sei se vai acontecer. Porém, acho que a questão principal é: Não é Austen. Se você for assistir esperando que seja um sétima obra perdida da autora, vai se decepcionar profundamente. Em alguns aspectos ela segue o estilo de várias outras séries de época divertidas de assistir e em outros atualiza esse estilo de romanção regenciano pra torná-lo mais adequado aos olhos do século XXI. Não é a minha adaptação preferida, mas é sempre bom ver a Austen ganhando vida nova.

Emma (2020)

Emma é uma das obras da Austen que mais recebeu adaptações e eu até entendo o apelo como mídia visual porque em um espaço mais reduzido de tempo todas os detalhes mais lentos do cotidiano daquelas pessoas que tornaram a leitura do livro bem arrastada pra mim podem ser excluídos e a história se torna um coming of age bem redondinho e divertido, como nesse caso. Visualmente essa é uma das minhas adaptações favoritas da Austen, porque além de ter cenários belíssimos, as cores são vibrantes e não há nenhuma preocupação com precisão história nos figurinos e penteados dos personagens, o que (GRAÇAS A DEUS) nos impede de ter mais uma adaptação cheia daqueles vestidos regencianos brancos de algodão horrorosos acinturados logo abaixo do peito e aqueles penteados com cachos de ovelha. Apesar de ser bem fiel ao texto original, o filme deu liberdade aos atores pra usarem esse texto de formas bem criativas, e a atuação da Anya Taylor-Joy é especialmente divertida, mesmo sendo completamente fora dos limites que a discrição regenciana permitiria. A liberdade também se estendeu pra algumas insinuações sexuais que no trailer pareceram bem exageradas, mas no filme em si não me incomodaram nem um pouco e pra vários momentos de desconstrução da pose dos cavalheiros e das damas, como a Emma levantando a parte de trás do vestido pra tomar um ar enquanto passa pelo processo longuíssimo de se arrumar, ou o Mr. Knightley arrancando a gravata e se jogando no chão dramaticamente quando pensa que a Emma está apaixonada por outro. Resumindo, é uma das minhas adaptações favoritas, mas definitivamente não vai agradar os puristas de Austen.

Bride and Prejudice (2004)

Eu já perdi as contas de quantas coisas inspiradas em Orgulho e Preconceito eu já assisti/li, então quase esqueci do adorável Bride and Prejudice, que traz o clássico pra realidade de uma família indiana em 2004. É um filme bom? Definitivamente não. As atuações são meio toscas, a qualidade de imagem parece ser de 1982 e algumas falas me deram vergonha alheia, mas é muito divertido, colorido e festivo. As danças e a cultura indiana se encaixaram muito bem na história e fizeram ela fazer mais sentido no século XXI do que faria na nossa cultura, por exemplo, e os coadjuvantes são hilários. Então se você, como eu, às vezes gosta de um lixo assumido, vá em frente com esse filme.

O Clube de Leitura de Jane Austen (2007)

Esse filme não é bem uma adaptação de Jane Austen, mas os personagens dele encontram eco das suas próprias histórias nas obras da autora enquanto leem seus livros pra discuti-los em reuniões de um clube do livro. Eu sou uma completa cadelinha de enredos sobre a importância da leitura na vida de grupos de pessoas, especificamente sobre clubes do livro, então é óbvio que mesmo tendo seus problemas é um dos meus filmes favoritos do “universo expandido austeneano”. Os personagens que representam Persuasão foram especialmente marcantes pra mim porque realmente incorporam uma história de segundas chances dentro do seu casamento, e têm a cena mais emocionante do filme em que as palavras do livro da Jane são essenciais. De resto é um filme divertido e que me trouxe um sentimento de calor humano e acolhimento enorme em ver aquele círculo de pessoas se aproximar pelo amor à literatura e à Austen em específico. Todo mundo diz que o filme é bem melhor que o livro que lhe deu origem, então tenho um pouco de receio de ler.

Mansfield Park – Jane Austen

Na época da minha série de posts original, Mansfield Park era o único romance completo da Austen que eu não tinha lido e hoje continua sendo o único do qual eu não assisti nenhuma adaptação. Acabei lendo-o em 2016 e até hoje tenho um rascunho não terminado de resenha pra ele. Esse livro tem um tom bem diferente do resto dos livros da autora, em vez de risonho e irônico ele é julgador e moralista, em grande parte devido ao fato de a característica definidora da protagonista Fanny Price ser justamente a sua moralidade caduca. Essa moralidade acaba sendo premiada no final, tanto na Fanny quanto no INSUPORTÁVEL do Edmund, que é o pior mocinho da Austen. Enquanto lia torci mil vezes mais pra que a Fanny ficasse com o Henry Crawford, um personagem muito mais interessante, carismático e multi-facetado, mas óbvio que isso não aconteceria porque ele precisava ser castigado pela sua imoralidade. Enfim, é um romance que gostei muito de ler e analisar em contraponto ao resto da obra da autora, e que é, como sempre, muito bem escrito, mas os personagens são muito insossos. Ainda quero postar a minha resenha inacabada desse livro e provavelmente vou fazer isso depois de assistir a adaptação, então aguardem.

Persuasion

Vou fazer um post mais completo sobre a experiência de ler Austen no original em inglês que estou tendo nesse exato momento e que está sendo maravilhosa, então fica aqui apenas o registro da diferença que a língua faz porque senti como se a prosa da Austen tivesse um tom muito mais pessoal em inglês do que jamais teve em Português. É muito bom reencontrar uma história que eu amo tanto e poder tentar extrair das palavras originais da autora novos sentidos que me escaparam nas interpretações dos tradutores.

Quero Ler

Agora vamos aos livros da Austen ou sobre a Austen que eu quero consumir nos próximos tempos pra completar a grande experiência austeniana.

A Portrait of Jane Austen – Cecil David

Descobri esse livro nos textos de apoio da minha edição em inglês de Persuasão (que são incríveis), e tive que baixar um PDF porcamente escaneado porque o livro não está mais disponível em lugar nenhum. Pelo que eu vi ele é não só uma biografia muito bem pesquisada, mas um retrato histórico rico da época da Jane e uma análise interessante sobre os livros dela. As ilustrações e fotos são fascinantes pra uma pessoa que ama história como eu, então tenho muitos motivos pra querer lê-lo o mais rápido possível.

Jane’s Fame – How Jane Austen Conquered The World – Claire Harman

Esse livro (que também descobri nos textos de apoio de Persuasion) eu provavelmente não vou ler por inteiro porque é gigantesco, em inglês e não ficcional, mas definitivamente tenho interesse em ler por alto para descobrir as origens históricas da popularidade gigantesca da Jane, que não ocorreu em vida da autora.

A Truth Universally Acknowledged: 33 Great Writers on Why We Read Jane Austen – Susannah Carson

ALGUÉM ME ARRANJA ESSE LIVRO, UM PDF ESCANEADO DELE, QUALQUER COISAAAAA. Apesar de não ter conseguido encontrá-lo em lugar nenhum fica aqui a esperança de conseguir encontrá-lo e ler as opiniões de outros grandes autores sobre a Austen (incluindo o C.S. Lewis).

Eu Fui a Melhor Amiga de Jane Austen – Cora Harrison

Esse livro me passa uma vibe totalmente As Memórias Perdidas de Jane Austen da Syrie James que eu li há alguns anos e do qual não lembro muita coisa, exceto que era divertido e bem fiel ao estilo da Jane, mas acho que vai ser parecido com Eu fui a melhor amiga… por ter essa premissa de ser uma espécie de biografia romanceada que puxa muito mais pro lado ficcional. Entre os livros dessa lista não é o que eu tenho mais pressa pra ler, mas provavelmente vai ser o que eu vou conseguir em edição física mais rápido porque sempre está disponível para troca no Skoob.

Lady Susan/Os Watsons/Sanditon – Jane Austen

Comprei essa ediçãozinha da LP&M Pocket numa livraria há algum tempo atrás e quero muito ler Sanditon e Lady Susan pra ter uma ideia sobre a Jane fora do cânone dos 6 livros terminados. Tenho esperança de conseguir ler no ano que vem, vamos ver se consigo.

Top 5: Livros que preciso reler

O Retrato de Dorian Gray – Oscar Wilde

O Oscar Wilde foi um autor surpreendentemente presente nas minhas leituras dos últimos anos, especialmente em 2018. Eu amo o estilo dele, amo o humor das suas obras de ficção e a inteligência aguda das suas obras de não-ficção, e apesar de ter dois livros não lidos dele na estante o que eu estou mais ansiosa pra ler é O Retrato de Dorian Gray, que eu li pela primeira vez quando tinha uns 12 anos e era ingênua e quase sem bagagem literária. Não lembro de absolutamente nada que acontece na história, inclusive o final vai ser uma surpresa pra mim porque realmente não lembro, de modo que esse é um grande motivo pra eu querer reler, mas também quero reler porque acho que os anos e os estudos e leituras me deram aparatos pra entender melhor esse livro que eu com certeza não tinha aos 12 anos.

Emma – Jane Austen

Não sei se seria o caso de considerar Emma uma releitura porque da primeira vez eu não cheguei a lê-lo todo, mas de qualquer forma ele fica na lista porque preciso MUITO lê-lo. Jane Austen é uma fonte de releituras constantes pra mim, porque os livros são sempre tão curtos e agradáveis que é um prazer voltar a eles, mas com Emma a situação é bem diferente, pois além de ser bem mais longo que os outros livros dela ele também foi o mais cansativo pra mim. Depois de ter visto a adaptação da BBC e de ter lido O Que Aprendi com Jane Austen, no entanto, fiquei com vontade de voltar a ele e tirar a prova dos nove sobre sua qualidade. Vai ser um desafio pra mim porque é um livro que se estende tanto em pequenas coisas que parecem insignificantes que já fico receosa de antemão, mas realmente quero fazer justiça a ele.

Comer, Rezar, Amar – Elizabeth Gilbert

Entre os livros dessa lista esse é o que eu tenho mais receio de reler. Eu também pulei algumas partes dele quando o li originalmente (a parte sobre rezar, porque não me interessava em nada), então vai ser mais um caso de concluir de fato a leitura, mas meu receio é porque mesmo lembrando de ter gostado da leitura (apesar de obviamente não ter lido direito) pode haver algum fundo de verdade na impressão geral que tenho quando olho pra capa desse livro na minha estante: um longo relato de uma mulher rica fazendo o que mulheres ricas fazem quando terminam relacionamentos. Eu não poderia estar mais distante de me interessar por histórias de mulheres americanas ricas no momento, mas ao mesmo tempo estou numa fase bem mais interessada em não-ficção e memórias em geral e a Elizabeth Gilbert é uma grande escritora ficcional e uma grande pesquisadora também, de cuja voz narrativa eu gostei bastante em oportunidades mais recentes, então vou confiar nisso e tentar ler na primeira oportunidade possível.

The Catcher in The Rye – J.D. Salinger

Eu tenho uma edição em português e uma em inglês desse livro, ambas incríveis (a edição brasileira é muito antiga, dos anos 60, comprada em sebo, com fita adesiva na lombada e autôr escrito com acento, já a americana tem a capa clássica abstrata que eu amo), então fico em dúvida sobre como vou querer fazer essa releitura. Por enquanto coloquei o título em inglês porque quero ler o original, principalmente porque a única tradução disponível no Brasil tem gírias ultrapassadíssimas que fazem o Holden parecer um velho e não um adolescente, mas também porque quero saber se a tradução alterou os significados da história. Li esse livro pela primeira vez muitos anos atrás e apesar de ele estar bem vivo na minha memória, ao contrário de outros nessa lista, eu quero muito saber como ele resistiu ao teste do tempo e da bagagem literária e ao reconhecimento da minha obsessão por romances de formação que provavelmente se iniciou por volta do momento em que o li, mas não tive consciência disso por muito tempo.

The Lover’s Dictionary – David Levithan

Esse foi um dos primeiros livros que eu li completos em inglês e o nível de vocabulário dele não é basiquinho, porque se trata literalmente de um dicionário sentimental, então realmente acho que não entendi tudo que havia pra entender nele. Agora, com um inglês bem mais respeitável acredito que vou amá-lo ainda mais do que amei na época. Foi emocionante ler um trecho lindo dele citado numa HQ que li no ano passado e isso me deixou com muita saudade da habilidade do David com as palavras.

Menção Especial: Um Grande Garoto – Nick Hornby

Eu tenho muita vontade de reler esse livro porque ele é, pra mim, o livro mais Nick Hornby que o Nick Hornby já escreveu e eu sinto muito saudade do jeito cínico e hilário do Nick às vezes, mas ele entra como menção especial porque é o que tenho menos pressa pra fazer uma releitura e mais receio de deixar de gostar de um livro que amei muito em determinado momento da vida. Não é o tipo de história que me atrairia hoje, porque é basicamente sobre um homem de uns 30 e poucos anos completamente apático e cínico, mas a estranheza da história, a improvável ternura que rola ali no meio e o humor afiado do Hornby me fazem acreditar que vou continuar gostando mesmo assim.

Relendo Orgulho e Preconceito ou Voltando Pra Casa – Parte I: Charlotte Lucas

Há muito tempo atrás, no longínquo ano de 2015, eu fiz nesse blog uma série de posts especiais sobre a Jane Austen dos quais me orgulho muito porque contemplaram muitos aspectos importantes da minha relação longa e prolífica com a escritora e sobre os quais eu não teria oportunidade de falar caso não tivesse feito posts tão fora da minha zona de conforto. Desde que em 2016 li Mansfield Park, último livro completo da Jane que me faltava ler à época daqueles posts, nunca mais li ou reli nada dela e, apesar da minha promessa, não editei os posts pra contemplar minhas opiniões sobre Mansfield, então essa é a primeira ocasião desde então em que me reencontro com a Jane no blog e na vida literária.

O que aconteceu agora foi que, como já disse muitas vezes aqui, Orgulho e Preconceito (e mais especificamente a minha ediçãozinha surrada e mal traduzida da Martin Claret com o velho cheiro conhecido) é como um lar pra mim e nesse momento de mudanças, finais, desafios, questionamentos e inseguranças na minha vida eu precisava voltar pra casa.

Nesse post e em provavelmente alguns outros eu vou comentar a experiência de reler Orgulho e Preconceito alguns anos (talvez 5) depois da última releitura e as coisas que eu pensei sobre essa história e a autora durante esse tempo de amadurecimento. Pra começar eu queria falar sobre uma personagem secundária que me perturba há muito tempo: Charlotte Lucas.

A Charlotte é descrita no livro como uma mulher não muito bonita, vinda de uma família muito numerosa e já na casa dos 27 anos. Quando o Sr. Bingley e o Sr. Darcy chegam àquela sociedade extremamente limitada representando novidade e renovando as esperanças das mocinhas casadouras e de suas mães desesperadas, Charlotte é descartada como uma opção para eles pela Sra. Bennet, mãe da protagonista do livro e melhor amiga de Charlotte, Elizabeth. Quando essa mesma Elizabeth recusa a proposta de casamento do primo tolo, vaidoso e subserviente chamado Sr. Collins, é Charlotte que remedia os ânimos, dando a ele a atenção que faz com que ele esqueça os constrangimentos da proposta recusada. Não passa pela cabeça da Elizabeth em momento algum que essa atenção dedicada pela amiga ao primo se deva a qualquer outra razão que não o desejo de ajudá-la a se livrar das indiretas ressentidas dele. Ela é pega de surpresa, portanto, quando Charlotte revela que aceitou uma proposta de casamento do Sr. Collins dois dias depois da proposta malfadada feita à Elizabeth.

Todo o meu interesse pela Charlotte reside no fato de ela ser a representação feminina mais realista do livro. Inteligente, sensata, responsável e uma boa amiga, ela poderia, como Elizabeth, se recusar a se rebaixar aceitando a proposta de um homem tão insuportável quanto Collins, mas Charlotte não pode se dar ao luxo, sendo tão pobre e correndo o risco de ficar à mercê da bondade dos irmãos pelo resto da vida, de esperar por uma improvável segunda proposta de casamento. Por isso, mais do que aceitar Collins, é ela que o induz a fazer a proposta, dando atenção à sua conversa enfadonha, sendo receptiva a ele. E fica muito claro que ela está plenamente ciente de todos os seus defeitos e que não espera felicidade na relação, ela o considera apenas um instrumento para sua independência (se é que se pode usar esse termo para uma independência tão limitada) e para esse propósito ele serve bem, como vemos mais à frente no livro, quando Elizabeth vai visitá-la e a encontra instalada em sua própria casa, que embora simples e pequena é sua para dispor como quiser, recebendo seus próprios visitantes e encontrando suas próprias maneiras de lidar com a tolice do marido, seja incentivando-o a passar a maior parte de seu tempo em casa cuidando do jardim, seja passando a maior parte de seu próprio tempo livre em uma sala que sabe não ser convidativa para ele, seja conversando pacientemente com ele antes de eventos sociais para tentar minimizar a exposição negativa a que ele pode se submeter tentando cair nas graças dos ricos e poderosos. Talvez não seja muito e com certeza não é a ideia de felicidade conjugal de Elizabeth, mas é o que está ao alcance da pobre e feia Charlotte, e, pelo menos é o destino que ela escolheu, o que a solteirice por falta de pretendentes não seria. É, em certa medida, a única forma que ela tem de ter alguma influência sobre o próprio destino, e, tendo em vista que sua alternativa seria a dependência dos irmãos, que a considerariam um fardo, conforme demonstra o alívio que eles sentem com o casamento dela, a inteligência da Charlotte pra se livrar dessa situação e conseguir qualquer parcela de controle que possa ter sobre sua vida é admirável. Mas, mais do que isso, Charlotte não pode se dar ao luxo de ter princípios, como Elizabeth, julgadora, a acusa de não ter. Para Elizabeth nenhum desses possíveis sofrimentos futuros é atenuante da indignidade de casar com Collins, e ela a julga sem qualquer piedade, rebaixando-a em sua estima, apesar das contrapartidas da irmã mais compreensiva que apresenta esses argumentos.

Que os princípios de Elizabeth sobre a felicidade conjugal, que fazem com que ela recuse uma boa e uma ótima proposta de casamento ao longo do livro, mesmo com a sua pobreza e com a possibilidade de ficar sem casa com a morte do pai, sejam recompensados no final do livro com o casamento vantajoso e amoroso dela com o Sr. Darcy é coisa que só podia sair do terreno da ficção, e vou falar mais sobre esse aspecto em outro post, mas por enquanto o que quero discutir é como a Charlotte, a realista e determinada Charlotte é injustiçada pelo julgamento da Elizabeth, mas, nas entrelinhas, compreendida pela Jane Austen, não só nas falas da irmã de Elizabeth, mas também no respeito com que a sua presença de espírito durante tudo isso é descrita.

Alguém já deve ter estudado academicamente a Charlotte Lucas e pretendo pesquisar mais sobre isso, mas fica a chamada de atenção para os futuros leitores de Orgulho e Preconceito para o quão bem construída, realista e multidimensional a Charlotte é e para desromantizar a obra, pois apesar de ser, talvez, o melhor romance romântico de todos os tempos, ela também é muito boa em retratar casamentos não românticos e os diversos (ou nem tão diversos assim) destinos desagradáveis que eram reservados às mulheres da época e em nos fazer compreender a subjetividade delas nessas situações.

Especial Jane Austen – Parte IV: As fãs, a internet e eu

Essa última parte do meu especial Jane Austen foi protelada por tempo demais, como quase tudo na minha vida nos últimos tempos. Numa tentativa de pôr ordem na bagunça, vou concluir esse especial de forma digna e seguir em frente, porque ficar me lamentando das coisas que não terminei não ajuda em nada e não sei quando vou entender isso definitivamente.

A ideia de que o último post dessa série fosse sobre fãs e internet surgiu porque a minha experiência com Jane Austen não teria sido metade do que foi se não fossem as outras fãs, o conteúdo da internet e minha interação com tudo isso.

Por exemplo, minha amizade com minha melhor amiga literária começou por causa do nosso gosto comum por Jane Austen e serei eternamente grata pelas longas viagens de ônibus para a faculdade discutindo o caráter do Mr. Darcy e qual mocinha austeneana nós seríamos.

O clube do livro do qual faço parte até hoje, apesar da séria dificuldade que tenho tido de terminar os livros ultimamente, surgiu dessa amizade e da experiência de comentar as leituras que começaram com Jane Austen. Uma de nossas reuniões no ano passado foi dedicada a discutir nossa diva maior, e nela falamos sobre sua biografia e o livro do mês do clube, que era A Abadia de Northanger, seu primeiro livro, e quase todas as reuniões têm algum momento reservado a falar sobre ela, por ser uma parte tão grande de nossas vidas como leitoras.

Devo também outra amiga à Jane Austen, uma com quem passei muitas horas em bate-papo na internet discutindo os atores escolhidos como mocinhos e que me apresentou a muitas adaptações dos livros da Austen que eu nunca ouvira falar e que depois me ouviu chover no molhado sobre elas com a maior paciência do mundo e que compartilha comigo um amor e um tesão descabidos pelo Michael Fassbender, nascido com sua interpretação de Mr. Rochester em Jane Eyre (que não é da Austen, mas que só li porque ela me inseriu nesse mundo dos romances de mulheres inglesas do século XIX).

Só por essas coisas que citei até aqui, eu já seria muita grata à Jane, porque foram experiências deliciosas e muito divertidas, mas o mundo virtual também foi muito importante. Agora, estudando fandom e fanficition, cultura de fã em geral, passei a ter uma outra visão do papel da internet e de tudo a que ela me apresentou. O mundo dos fãs de Austen na rede é bem extenso, e as fanfics de Persuasão e Orgulho e Preconceito que leio até hoje são uma das minhas partes favoritas dele.

O Lizzie Bennet Diaries, que surpresa boa, também é fruto da internet e dos fãs que incentivaram a iniciativa e a mantiveram viva por muito mais capítulos do que o esperado. E os fanarts fofíssimos que encontro na web e que vez ou outra se transformam em meu papel de parede do notebook me fazem muito feliz.

Mas uma coisa que jamais vou me cansar é de ler as experiências de outras pessoas nesse mundo mágico nos blogs, como o meu preferido, Coruja em Teto de Zinco Quente, da maravilhosa Luciana Coruja, onde me sinto acolhida e representada, especialmente em seus posts sobre Persuasão, para os quais já deixei link aqui.

E de resto, são os fãs, a internet e essas interações que mantém a obra de Jane viva, desde as revistas publicadas pelas fãs no início do século XX, até as Slash Fictions e as coisas bizarras como Orgulho e Preconceito e Zumbis que ampliam nossa experiência e aquecem nossos corações nostálgicos e apaixonados pelas obras até hoje.

Obrigada, internet! Obrigada Luciana! Obrigada pessoas que escrevem fanfiction! Obrigada Elizabeth, Anne, Emma e Catherine! Obrigada a tudo que fez parte da minha história com Jane Austen porque é uma grande parte de quem eu sou e do que vou me tornar e criaram algumas das minhas memórias mais deliciosas. Sempre poderei voltar a esse universo e me sentir em casa novamente. Porque isso é que é casa, esse sentimento de pertencer.

Especial Jane Austen – Parte II: Adaptações e Derivações

Esse vai ser um post gigantesco, talvez maior do que o anterior, então pela quantidade de coisas a serem citadas vou me eximir de comentários muito longos. Basicamente vou falar minhas opiniões sobre livros, filmes e séries adaptados ou derivados não muito fielmente da obra da Jane Austen. Vamos lá?

As Patricinhas de Beverly Hills (1995): Tecnicamente a primeira adaptação que assisti, lá no início dos anos 2000, quando passava exaustivamente na sessão da tarde. Depois de mais velha, quando não assistia mais à sessão da tarde tive um revival com esse filme e decidi baixá-lo pra assistir em inglês e sem cortes. Tive duas surpresas: era bem mais longo do que eu lembrava e a voz da Cher era ridícula. Nem preciso dizer que amo o Josh com todas as forças do meu ser (e o Paul Rudd também, mesmo que ele seja um ator não muito bom), que queria ter o guarda roupa da Cher e que acho ela a patricinha mais carismática de todos os tempos. Como adaptação, depois de ler o livro descobri que é bem fiel e que conseguiram traduzir muito bem os dramas regencianos para os anos 90. É leve, divertido, despretensioso, uma delicinha e meu filme adolescente favorito dos anos 90.

Emma (2009): Pra esgotar logo todas as adaptações que assisti de Emma vamos falar dessa que com certeza é a melhor e que foi responsável por mudar minha opinião sobre o livro que lhe serviu de inspiração. Como falei no post anterior, minha opinião sobre o livro à princípio não foi muito favorável, mas depois de assistir a essa série, que conseguiu ser fiel e ao mesmo tempo corrigir falhas do livro, isso começou a mudar. O elenco é ótimo, a Ramola Garai está perfeita no papel principal e além disso é uma linda, morro de inveja dela. O ator que interpreta o Knightley é que me incomoda um pouco por motivos de estar quase careca, mas é um bom ator. O dilema que foi acrescentado à trama (e que no livro não foi tão explorado) que é o da vontade de Emma sair do vilarejo em que vivia para viver novas experiências alheias aquele microcosmo limitadíssimo, mas ao mesmo tempo temer deixar o pai, colocou mais profundidade na personagem e na história. A cena da dança do Knightley e da Emma conseguiu me fazer quase ter um pire-paque de tanto shippar. E a série é tão, tão hilária que eu ri do início ao fim e até derramei umas lágrimas de alegria no final. Enfim, recomendo muitíssimo.

Orgulho e Preconceito (1995): Amorzinho eterno da minha vida. Acho que já falei aqui sobre a minha história com a série. De saber o enredo de trás pra frente, mas ficar roendo as unhas em frente ao computador esperando o próximo episódio terminar de ser baixado. De ter um friozinho gostoso na barriga cada vez que a musiquinha de abertura começava a tocar e as peças de roupa de época a se sucederem na tela. Mas vou tentar ser um pouco menos sentimental agora e falar que essa adaptação é uma das minhas preferidas de todos os tempos porque é tão fiel, tão fiel que é quase como reler o livro. O elenco é tão incrível que os elencos nas adaptações que vieram depois me decepcionaram bastante. E Colin Firth é meu crush eterno. A única ressalva que tenho a fazer é quanto aquele final ridículo em que a Jane e a Elizabeth casam-se simultaneamente. Horrível. De resto, recomendo infinitamente pra quem leu O&P e é fã, pra quem não leu, pra todo mundo agora e sempre.

Orgulho e Preconceito (2005): Minhas amigas do clube do livro preferem essa versão e eu também gosto bastante dela. Como adaptação, no entanto, não supera a versão de 1995. O elenco é bom, mas também não supera a versão anterior. O Matthew alguma-coisa que interpreta o Mr. Darcy, principalmente, nunca será. Não gosto da interpretação estilo coitado dele. Acho que a princípio e mesmo numa avaliação mais profunda, o Mr. Darcy é realmente um esnobe. Ele realmente acha que sua opinião é sempre a mais acertada e que seu caráter é tão irreprimível que ele tem o direito de criticar o alheio e considerar-se superior. Então não me venham com essa de Darcy coitadinho tímido, porque vocês estarão entendendo o personagem completamente errado, como o Matthew entendeu. Mesmo assim, acho esse filme esteticamente perfeito. A fotografia é de matar. A trilha sonora é maravilhosa e toda vez que eu ouço a música que toca na cena final dos protagonistas se encontrando num amanhecer de tirar o fôlego, fico emocionada. Também gosto do fato de o diretor ter tirado o ar idílico que a série e o livro têm, para dar uma cara mais historicamente realista à adaptação. O filme também tem várias cenas geniais, como a do amanhecer, já citada; a cena em que a Lizzie gira num balanço enquanto as estações mudam ao seu redor; a cena em que ela visita Pemberley e vê as estátuas brancas; a cena em que contempla um abismo na viagem com os tios; a cena em que os Bennet fazem papel de bobos no baile de Netherfield… Enfim, é um filme maravilhoso, com ressalvas para o elenco e para a superioridade como adaptação para a série de 95.

Persuasão (2007):  Persuasão, como eu já disse, é empatado com O&P, meu livro favorito da Jane. Mas como a vida não é justa, nenhuma adaptação fez jus a ele até agora. Só assisti o filme de 2007 porque o elenco da série de 1994 me broxou totalmente, e a sensação que eu tive foi que os roteiristas e diretores não leram o mesmo livro que eu. Além de não terem compreendido a Anne de forma alguma. Não chega a ser um filme ruim, mas não é uma boa adaptação porque não capta o espírito do livro. A fotografia também não é lá grande coisa. O elenco é ruim, especialmente os protagonistas, porque meu Deus, a atriz que interpreta a Anne é ótima, mas não para esse papel e o ator que interpreta o Wentworth é bonitinho mas ordinário. Não recomendo se você realmente entendeu o livro. Completamente indiferente. Não fede nem cheira.

Razão e Sensibilidade (2008): Como já falei aqui, não sou lá muito fã de Razão e Sensibilidade, e por isso não tinha grande curiosidade com adaptações. Uma amiga me indicou a série de 2008 me dando como motivos para assistir o fato de o Edward ser interpretado pelo ator mais fofo de Downton Abbey. E lá fui eu, só por esse motivo. A série, assim como o livro, não empolga, mas a fotografia é maravilhosa e é extremamente fiel ao original. O elenco foi bem escolhido, as atuações são boas, os relacionamentos dos casais protagonistas são talvez mais bem construídos que no livro e é tudo extremamente delicado, especialmente a representação do relacionamento da Marianne e da Elinor. Recomendo bastante pra quem tiver gostado do livro ou pra quem como eu não se empolgou muito e quer uma outra versão na esperança de um pouco mais de sal na história. Agora pretendo assistir a adaptação em filme que tem a Kate Winslet no elenco. Talvez me faça mudar de opinião.

A Abadia de Northanger (2007): A última adaptação dos livros que assisti. Terminei de assisti-la inclusive depois de ter começado esse post. É extremamente leve e divertida, manteve-se o clima de paródia do livro e o elenco é maravilhoso (inclusive melhor do que o de adaptações mais pretensiosas). O Henry Tilney daqui conseguiu ser mais carismático que o original e eu adoro a Carey Mulligan que ficou perfeita como a falsiane-mor chamada Isabella e a Felicity Jones que está muito fofa como Catherine. A fotografia não é lá grande coisa e a construção de algumas cenas me incomodou muito, principalmente as que envolvem o pai do Tilney. O final é extremamente apressado e até meio confuso, mas o final do livro também é assim. No entanto, o que me incomodou de verdade foram as apelações sexuais que não haviam no livro. Por exemplo, em momento algum é dito que a Isabella foi “arruinada” pelo irmão do Tilney na história original e no entanto é isso que acontece no filme. Tirando essa e outras infidelidades ao livro, recomendo bastante.

Morte em Pemberley (2013): Entrando no campo das derivações, vamos começar com a primeira delas que assisti. Morte em Pemberley foi adaptada do livro homônimo da autora P. D. James do qual falarei mais à frente e já vou logo adiantando que é bem melhor que o livro. O enredo se passa alguns anos após o casamento de Darcy e Elizabeth e os coloca no meio de uma investigação criminal. Os personagens são fieis às personalidades para eles criadas pela Jane Austen e o elenco tem ótimas atuações, apesar de fisicamente não ser meu elenco dos sonhos. O mistério foi bem construído, mantém-se um suspense muito bom até o fim. A Elizabeth continua lacradora e o Darcy continua meio esnobe, mas temos um vislumbre bastante verossímil de como seria a vida de casados deles e até do Darcy como pai amoroso. Os problemas do casamento deles também são bastante críveis e serei eternamente grata pela pequena safadagenzinha na reconciliação deles (eu sei, sou doente). O ritmo da série é muito bom, empolga alternando a investigação com os enredos secundários (incluindo uma ótima continuação para a Georgiana) e até com um pouco de ação num “tribunal”. Fotografia boa. A única reimaginação de personagem da qual não gostei foi a do coronel Fitzwilliam, mas acho que precisava haver um bode expiatório para as culpas da série. Mas a manutenção do caráter ambíguo do Wickham compensa isso. Recomendo muitíssimo.

Lost in Austen (2008): Com certeza a derivação mais sem noção que eu assisti. Não sei nem como explicar. Mas vamos tentar: uma fã de Orgulho e Preconceito se vê de repente trocando de lugar com a Elizabeth Bennet e indo parar no lugar dela lá na Inglaterra regenciana, pensando que vai viver aquele idílio romântico. Mas acaba interferindo no destino dos personagens e tudo começa a sair errado a ponto de Jane Bennet se casar com o Sr. Collins. Os segredos que os personagens guardam também são completamente sem noção, por exemplo a irmã do Bingley, Caroline, é lésbica. A única coisa que se salvou foi o ator que interpreta o Darcy, gostoso ao extremo (mas descobri depois que está meio careca e tava usando uma peruquinha básica na série, o que explica o cabelo meio duro dele) e a cena em que a protagonista pede pra ele realizar um sonho dela, saindo de camisa branca molhada do  lago de Pemberley (também é meu sonho).

Austenlândia (2013): Eu tinha uma super expectativa com o livro e com o filme, mas como o livro está caríssimo acabei assistindo o filme primeiro. Foi bem decepcionante, então não sei se vou comprar o livro. Voltando ao ponto, em Austenlândia uma mulher pra lá dos 30 anos, obcecada por Jane Austen gasta todas as suas economias para viajar para uma espécie de colônia de imersão austeneana, onde as mulheres podem experimentar um amor à la Jane Austen com um dos atores, vestir as roupas e passar o tempo do jeito típico da época. Não sei se por nunca ter romantizado demais essa época eu não tive vontade de viver nela e por isso não me identifiquei com o filme. Talvez a vida pacata e terna da Anne Eliot e do Capitão Wentworth e seu grupo de amigos maravilhosos tivesse me atraído, mas somente nesse contexto. Definitivamente não ia querer atores pagos pra flertar comigo. Mas o filme tem uns momentos engraçados e consegue recriar a história de Orgulho e Preconceito no meio dessa loucura toda, com direito até a um bastardo metido a Wickham. Recomendo pra rir um pouco e também pelo ator que interpreta nesse filme um personagem meio Darcy e em A Abadia de Northanger interpreta o Henry Tilney. Ele é lindoooooooo e tem um sorriso divino. Assistam pra ver ele sendo fofo.

The Lizzie Bennet Diaries: A adaptação/derivação mais original de todas porque quem pensaria em adaptar O&P em formato de canal do Youtube? Quando eu estava assistindo não conseguia parar de pensar:”que genial! que maluco! podia ter dado muito errado! mas deu muito certo!”. É um desses milagres que só a internet proporciona: Lizzie Bennet como uma youtuber que estuda o movimento da informação de massa! Mr. Darcy hispter! Lydia Bennet carismática! É tão bom e maluco que não sei como explicar. Só posso dizer que a mensagem feminista de sororidade que essa série de vídeos passa é demais para o meu pobre coração. Aliás, a série toda é feminista. Desde a recusa da Lizzie a se submeter à pressão social de ter um homem ao seu lado para validá-la como mulher, até a situação da Lydia sendo exposta na internet. É lindo de ver. E apesar de tudo é uma adaptação bem fiel, com o humor, as personalidades dos personagens e os acontecimentos sendo preservados na medida do possível. O começo é um pouco cansativo, mas isso é compreensível. Além disso, a interatividade que ocorreu durante a publicação dos vídeos é uma prova de como novos formatos de conteúdo podem dar certo e do quão dinâmicos eles são. Os atores são muito bons e o romance do Darcy e da Lizzie continua fofíssimo. Assistam! Assistam! Assistam!

O Diário de Bridget Jones (2001): Aproveitando que já vou passar para a sessão de livros desse post, vou falar sobre o livro e o filme ao mesmo tempo. Bridget Jones é uma das personagens mais carismáticas da vida. Li o livro em dois dias, das duas vezes que li, porque é hilário, o ritmo é maravilhoso e Mark Darcy é tudo. E aí o que eu descubro? Que existe uma adaptação com o Colin Firth como Mark Darcy! Até porque ele é o único Darcy always and forever e deviam ter chamado ele pra todas as adaptações. E a adaptação consegue ser tão engraçada, fofa e apaixonante quanto o livro. Destaque para a cena final com a Bridget correndo sem calça pela rua pra encontrar o Darcy e ele envolvendo os dois no casaco gigante de inglês dele enquanto a neve cai… Suspiros eternos. Acho inclusive que a mudança do plot que ocorreu do livro pro filme foi bastante válida, porque no livro o Darcy ajuda com a fuga da mãe da Bridget, já no filme o problema é que o Daniel Cleaver/George Wickham, transou com a noiva do Darcy. Ficou interessante. Recomendo livro e filme pelas risadas, pela fidelidade meio satírica ao livro e Mark Darcy.

Bridget Jones: No Limite da Razão (2004): Quando as pessoas fazem um livro ou filme bom deviam parar por ali pra evitar o pesadelo das continuações desnecessárias, a não ser que você tenha uma ideia muito muito boa pra continuação ou que você seja a J.K Rowling. O triste caso de Bridget Jones é que tanto o segundo livro quanto o segundo filme são brutalmente inferiores. O livro é meio que uma releitura de Persuasão, mas esqueceram totalmente disso no filme e acabaram ressuscitando o escroto Daniel Cleaver que não tinha nada a ver com a história pra ficar fazendo papel de pastel fanfarrão e atrapalhando a vida do Mark. O filme é hilário, apesar disso, com umas referências muito doidas, um beijo gay, uma cena completamente sem noção da Bridget drogada e outra mais sem noção ainda com ela presa na Tailândia cantando Material Girl com as presas, já o livro tem sérios problemas de ritmo que me levaram a cometer o pecado de pular páginas. Mesmo assim, ver o relacionamento da Bridget com o Mark é sempre bom e ver que ela nunca amadurece é um alívio para pessoas que como eu também continuam cometendo erros crassos mesmo com a chegada dos anos nos couros. Um conselho: já que a merda já tava feita podiam pelo menos ter parado por aqui, mas o que acontece? inventam outra continuação em que O MARK DARCY MORRE! MARK DARCY NÃO PODE MORRER, ENTENDEM? ELE É IMORTAL! QUEM MATOU MARK DARCY MERECE UMA MORTE LENTA E SOFRIDA. Não recomendo muito.

Epic Fail – Claire LaZebnik: Foi o primeiro dessa seriezinha de adaptações que a autora fez de livros da Jane para adolescentes. É releitura de Orgulho e Preconceito. Não achei grande coisa, mas foi divertido ver o Darcy transformado num adolescente de dezessete anos com pais famosos e uma séria mania de perseguição. Não lembro de muito mais da história, de modo que não recomendo, porque uma coisa tão facilmente esquecível não pode ser boa.

The Last Best Kiss – Clarie LaZebnik: Não sei se é pelo amor inabalável por plots sobre segundas chances que eu tenho, mas essa adaptação de Persuasão foi bem melhor pra mim do Epic Fail. O Wentworth virou Finn Westbrook, um nerd rejeitado em pleno baile pela garota com quem estava se encontrando secretamente nos últimos meses, Anne. É a coisa mais fofa do universo, senhor. Apesar de ter umas coisas bem sem noção no meio, como um festival à la Coachela e uma roda de maconha em que o Finn e a Anne participam, o romance deles me empolga e me dá frio na barriga e me vi torcendo como louca por eles e relendo várias vezes o final fofíssimo demais. A autora realmente captou a Anne, ainda que tenha sacrificado a personalidade original do Wentworth em favor do plot. Recomendo bastante, ainda que não haja publicação em português.

Morte em Pemberley – P. D. James: Não julguem o livro pela série. Cheguei toda cheia de expectativa no livro porque a adaptação foi bem legal, mas me deparo com zero enredo, zero personalidades dos personagens originais preservadas, zero interações Darcy e Elizabeth exceto por um final meloso e inverossímil que eu não comprei de jeito nenhum. Ainda por cima não é um bom mistério, não tem ritmo e não tem os enredos secundários empolgantes que a série tinha. Não recomendo de jeito nenhum. Assistam a série e esqueçam que o livro existe. Na verdade acho que só li até o final porque precisava para o clube do livro.

O post ficou gigante como pensei que ficaria, mas agora acabou, pessoal. Aguardem mais posts especiais de Jane Austen por aí.

Especial Jane Austen – Parte 1: Os Livros

O post de hoje será inteiramente dedicado a uma das minhas escritoras favoritas, definitivamente minha escritora mulher favorita, Jane Austen. A quantidade de posts sobre ela neste blog já é gigantesca, mas vou fazer um apanhado geral de todos esses posts, de todos os livros, de todas as adaptações, enfim, de tudo que já consumi e produzi sobre ela.

Pra começar preciso dizer que ainda me falta um livro e algumas histórias curtas dela para ler, mas essa falta logo será corrigida porque comprei Mansfield Park (o dito cujo que me falta) e pretendo ler muito em breve. As histórias curtas são esboços de romances inacabados, como Lady Susan (de autoria questionada) ou contos que Jane escreveu para os serões em família na sua casa culta, como os que estão reunidos no volume Juvenília, que também pretendo ler em breve.

Mas esta parte 1 do especial eu quero dedicar aos livros de autoria dela que já li. Para isso vou fazer uma lista por ordem de preferência e comentar um pouco sobre cada um deles.

1º- Orgulho e Preconceito: Me dói profundamente não colocar Persuasão em posição de empate em primeiro com O&P, mas tenho que admitir que Orgulho e Preconceito é mais bem acabado e tenho mais amor por ele. Ouso pensar que se Jane tivesse dedicado tanto tempo para revisar Persuasão como dedicou a revisar este, os dois teriam se igualado em qualidade, mas o foco aqui agora é O&P.

Quando e como li?: Acho que eu tinha doze anos quando o li pela primeira vez. Encontrei na biblioteca da minha escola (maravilhosa biblioteca, por sinal) uma edição resumida, com ilustrações de época bem bonitas, e uma amiga já me indicara, indicando inclusive o filme, então decidi ler. Lembro de ter devorado rapidamente e de ter sentido frio na barriga com cada interação Darcy/Elizabeth. Como era uma versão com muitos cortes, quase toda a riqueza estilística foi perdida, assim como grande parte da crítica social e do apuro psicológico das descrições dos personagens. Depois disso, por algum milagre a que serei grata eternamente, encontrei na única livraria da minha cidade (falida hoje em dia, por sinal) um exemplar da edição da Martin Claret, que hoje em dia reside acabadinho e cheirando a mofo na minha estante. Era a versão integral e ainda mais maravilhosa. Lembro de ter lido em transe hipnótico até a parte da fuga da Lydia, que foi bem chata para mim, mas no cômputo geral a experiência foi tão incrível que comecei a reler o livro a intervalos regulares e com um entusiasmo incansável, que só diminuiu no ano passado. Daí para o consumo maníaco de adaptações foi um pulo. E estamos aí até hoje.

Porque está nessa posição na lista?: Como eu disse mais acima, meu coração de janita/janete ou o que seja, fica sempre fortemente dividido entre O&P e Persuasão, mas numa análise estritamente literária, Orgulho e Preconceito é melhor. Não só porque é melhor acabado, mas porque os personagens são extremamente bem construídos e a ironia fina da autora está no seu auge e todas as tramas são bem aproveitadas e bem resolvidas. A reflexão sobre primeiras impressões também é extremamente válida (assim como outras reflexões que ele me despertou em diferentes momentos) e o enredo é ótimo e empolgante.a

O que eu sinto em relação a ele?: Partindo para o lado mais pessoal, Orgulho e Preconceito provavelmente sempre será meu preferido porque me iniciou no mundo mágico de Jane Austen e foi um sentimento único amar este livro e relê-lo tantas vezes a ponto de já saber de cor parágrafos inteiros e se eu tivesse que dar uma definição de lar, essa definição seria a sensação de abrir o meu exemplar surrado da Martin Claret, com o cheiro que eu tanto conheço e ler a primeira frase que eu conheço melhor ainda (“É uma verdade universalmente conhecida que um jovem possuidor de boa fortuna deve estar em busca de uma esposa”) e saber que vou encontrar Darcy e Elizabeth dançando no baile de Netherfield e Lydia e Kitty correndo atrás de oficiais e a Sra. Bennet reclamando de seus pobres nervos e o Sr. Bennet atirando sarcasmo como um franco-atirador e Jane e Bingley sendo a coisa mais pura do mundo. E eu vou sempre ter isso. Vou sempre ter estas palavras, escritas há duzentos anos por uma mulherzinha no interior da Inglaterra e vou sempre ter despertas por elas as lembranças de todas as versões de mim que leram esse livro e todas as coisas que pensei sobre ele nesses diferentes momentos e todos os amigos que fiz em função dele e todas as coisas que vivi por causa dele. É por isso que Orgulho e Preconceito sempre será um dos meus livros favoritos, não importa o que eu leia depois, não importa quem eu me torne. Porque esse livro já está tatuado em mim. Cada palavra. Cada personagem. Cada situação. Ele é sagrado pra mim. Além de tudo isso sempre sinto que Jane, eu e as outras mulheres temos uma piada interna que os homens não entendem e essa piada é esse livro. Vida longa a Orgulho e Preconceito (já estou com vontade de reler!).

2º- Persuasão: A Coruja (de quem vou falar mais em outro post) é uma das pessoas que mais admiro no ramo das adoradoras de Jane Austen e é umas das pessoas com quem minha opinião mais bate. O protagonista austiniano preferido dela é o Wentworth de Persuasão assim como o meu e as questões que ela levanta sobre o livro nessa análise maravilhosa que você pode ler aqui, aqui, e aqui são extremamente pertinentes pra mim. Então fica o link pra quem quiser conhecer. Mas vamos ao que interessa.

Quando e como li?: Minha história com Persuasão começou em 2014, o ano mais literariamente prolífico da minha até agora que teve o começo de ano literário mais maravilhoso da minha vida até agora. Eu só estava lendo livro bom e a maré de sorte se estendeu a esse livro, que eu comprara numa livraria um tempo antes. Foi o terceiro livro da Austen que li e depois da experiência meio decepcionante que tive com Razão e Sensibilidade, o segundo, sobre o qual vou falar mais adiante, eu entrei no barco meio com o pé atrás. Mas logo eu estava tão enredada na história que já nem lembrara mais de razão alguma. Li super rápido e saí por aí indicando pras amigas de cara, porque meu amor por esse livro foi imediato, ainda que não imediatamente profundo. Falarei mais sobre isso mais à frente.

Porque está nessa posição na lista?: Como eu disse, Persuasão parece não tão bem acabado como O&P, talvez por não possuir a mesma quantidade de revisões. Do meio para o fim, ele é meio cru e de um modo geral difere de tudo que a Austen escreveu. Mas está nessa posição porque é o mais maduro dos livros dela, um dos mais bem escritos (por não perder tempo com aquilo que não é pertinente à história), pela profundidade e pelos personagens incríveis e queridíssimos. É um livro triste e melancólico, tem toda uma aura de nostalgia, de chance perdida que me faz pensar no quanto a Jane era talentosa, porque CARALHO, sair do riso descarado que Emma é, para toda a dor de Persuasão é difícil. A crítica social também está bastante presente, mas agora se volta mais para a aristocracia tola, ultrapassada e vaidosa, representada pelo pai de Anne, o Sr. Elliot, coisa que não ocorrera antes. A ausência de autonomia da juventude também é de certo modo criticada, na medida em que a Jane tenta estabelecer que ouvir conselhos é bom, desde que você tenha discernimento suficiente pra saber se aquilo será bom pra você ou não.

O que eu sinto em relação a ele?: Meu sentimento geral quando penso nesse livro é de identificação. Acho que das heroínas Austenianas a que mais me identifico é a Anne Eliot e dos heróis o meu preferido, o que senti conexão imediata foi o Capitão Wentworth, então me enxergo muito nesses personagens. Como falei num post intitulado Anne Eliot e eu, a Anne é a protagonista mais indiferente para os leitores. Ela não é a mais odiada, nem a mais amada. Ela não é nem sequer vista, na maior parte do tempo. Isso porque a personalidade doce, comedida e madura dela é menos atraente do que as personalidades ruidosas e fortes de Emma, Marianne ou Elizabeth, do mesmo modo que não provoca o escárnio ou a pena que as outras heroínas mais tolas ou mais chatas provocam. E apesar de a princípio eu também parecer ruidosa e forte, com meus discursos feministas e posicionamentos ideológicos fortes, no fundo eu sou tão silenciosa e “overlooked” como a Anne. Eu me identifico com o medo que ela sente de não ter uma segunda chance, com o medo que ela teve de ser feliz na juventude, com o medo que ela tem. Esse também é o único livro da autora em que o foco realmente é o romance e por isso, esse aspecto é explorado de forma mais passional. A gente tem os protagonistas abrindo seus corações de um jeito que nenhum outro personagem faz e é tão delicado e bonito que eu me pego desejando um romance assim, constante e forte e doce, mais do que o de O&P. E também acho que os protagonistas austeneanos que tem mais chances de um casamento feliz são os simpáticos, inteligentes, adoráveis e de temperamento tranquilo Anne e Frederick. Puro amor ❤ ❤ ❤

3º- A Abadia de Northanger: O primeiro romance escrito pela minha diva (mas, por ironias do destino e de uma editora relapsa, o último a ser publicado, junto com Persuasão) e talvez por isso o mais despretensioso. Como o personagem do Hugh Dancy diz em O Clube de Leitura de Jane Austen nesse livro você vê a Jane às voltas com questões criativas como “O que faz uma heroína?” ou “O que faz um bom romance?”.

Quando e como li?: Eu já estava morta de vontade de lê-lo há muito tempo e aí acabei encontrando novo e baratíssimo no melhor livreiro da Estante Virtual, o Velho Buk, e agarrei minha chance de pôr as mãozinhas nele. O problema é que a edição que comprei, apesar de nova, baratíssima e bilíngue, tinha uma tradução horrível, das piores dos últimos tempos. Landmark, vocês me traumatizaram, não compro mais nem livro de receita publicado por vocês. Isso me incomodou bastante porque prejudicou a minha compreensão do livro. Em certos momentos, quando a tradução chegou a me fazer pensar que um homem estava dizendo uma coisa que na verdade uma mulher estava dizendo, tive que recorrer à parte em inglês para tirar a dúvida. E nem preciso mencionar o monte de “sensible” traduzido como “sensível”. É uma vergonha. Mas voltando ao ponto, A Abadia ficou guardadinho na minha estante até o mês do clube do livro, que se não me engano foi Abril, em que combinamos de lê-lo todas juntas. Meu ritmo de leitura foi ótimo, bem melhor do que o meu ritmo com os outros livros fora do “cânone austeneano” (entenda-se por “cânone austeneano” os livros da autora com mais reconchecimento: Orgulho e Preconceito, Razão e Sensibilidade e Persuasão). E a discussão no clube foi bastante agradável, porque todas nós estávamos super felizes de ler algo novo da nossa autora preferida.

Porque está nessa posição na lista?:

Até a leitura desse livro eu não sabia se colocava Razão e Sensibilidade ou Emma nessa posição, mas ele veio e clareou meu Top Austen. Isso porque apesar de ser imaturo e de ter um final muito abrupto, ele tem um senso de humor tão ácido, talvez por não ter sido ainda podado, que me fez dar gargalhadas altas apesar da tradução ruim. Além disso eu adoro o fato de este ser um romance sobre a leitura de romances, em que Austen parodia os romances em voga na sua época, os tais romances góticos que equivaleriam aos romances de banca de hoje, utilizando-se das suas temáticas favoritas: moças ingênuas e prédios antiquíssimos. Talvez a crítica dela não seja tanto a esses romances, mas ao público leitor não confesso deles, como o John Thorpe, patife pretensioso que me dá ânsia de vômito só de lembrar, que dizia não ler romances por uma série de motivos tão pretensiosos quanto ele, mas que sabia de cor a história de um dos mais famosos e tórridos da época. E tudo isso deu margem para Jane falar sobre o preconceito contra os romances, ela, leitora e escritora confessa dos ditos cujos, criticada por se dedicar a esse gênero, que na época era considerado majoritariamente feminino e talvez, justamente por isso, subestimado e visto como literatura menor. Se formos parar pra pensar nessa questão, vamos perceber que só quando os homens começaram a se dedicar ao romance foi que ele passou a ser melhor considerado e isso não diz muito sobre a questão da mulher na literatura? Porque aí está um gênero produzido por mulheres, sobre mulheres, para mulheres, que não era considerado “sério” o suficiente para ser respeitado. Ponto para Austen por mostrar isso.

O que eu sinto em relação a ele?: 

Uma das coisas que mais gosto na literatura em geral é o humor na hora de abordar os temas que poderiam cair no erro de serem levados a sério demais. É por isso que amo Machado de Assis, Nabokov e Jane Austen. Porque eles sabem até onde podem se levar a sério. Esse romance tem um valor especial pra mim porque é o mais hilário, espontâneo, ingênuo e leve da autora, mas nem por isso superficial. Pois apesar de tudo isso, ele realiza o que se propõe. É uma boa paródia, os personagens são bem construídos (identifiquei muita gente que eu conheço nesses personagens tolos de 200 anos atrás, principalmente na rainha das falsianes, Isabela Thorpe) e as questões secundárias também são bem desenvolvidas. Henry Tilney nunca vai ser dos meus heróis favoritos, porque ele parece demais comigo em alguns aspectos, como o excesso de sarcasmo, e como vocês sabem, dois bicudos não se beijam. Mesmo assim eu o entendo e o respeito por ter sido uma espécie de guia do bem para a fofíssima Catherine, que eu queria adotar e dizer que o bicho papão não mora no armário. A propósito, também me identifico bastante com ela, chegando naquele mundo novo e hostil com sua inexperiência e boa vontade. Coraçõezinhos eternos pra ela. Preciso de mais motivos pra gostar desse livro? Acho que não.

4º – Emma: Pensei bastante em colocar Razão e Sensibilidade nessa posição, porque minha relação com Emma teve altos e baixos e se eu for sincera, mais baixos do que altos, mas no cômputo geral Emma sai ganhando em pontos cruciais que falarei mais adiante.

Quando e como li?: No ano passado, conheci minha amiga que faz parte do Clube do Livro comigo. Ela era, como eu fã de Jane Austen. Eu emprestei Persuasão pra ela e ela me emprestou Emma, numa troca bem justa. A edição dela era aquela da Saraiva com caricaturas horrorosas dos autores, mas bem traduzida de modo que não foi a tradução que prejudicou minha leitura como aconteceu com A Abadia. O que me prejudicou de fato foi o que na época eu chamei de “enrolação”. Nada acontecia. Absolutamente nada. Só intrigas amorosas que nem envolviam o mocinho que eu gostava. A Emma me parecia superficial e irritante, prejudicando os outros o tempo todo e nem de longe tão carismática quanto em As Patricinhas de Beverly Hills (a única adaptação que eu assistira do livro até então e sobre a qual falarei em outro post). Tudo isso, somado ao fato de que as coisas só começam a se resolver lá depois da página 400 me deixou com um sono e um tédio que me fizeram tomar a atitude vergonhosa de pular umas páginas até a parte em que Knightley entra em ação de verdade e a Emma para de ser obtusa. Shame on me, really.

Porque está nessa posição na lista?:

Antes de ler A Abadia de Northanger esse me parecia ser o livro da Jane Austen mais dedicado à paródia, ao escárnio, ao riso escrachado da sociedade rural e de seus tipos. Mantenho a opinião de que ele é um dos mais engraçados, mas já não acho que seja dedicado ao escárnio. Esse ano que se passou desde a minha primeira leitura me fez enxergar muitas coisas que eu não enxergara antes nesse livro. Pra começar que quem ri escrachadamente daqueles tipos não é a autora e sim a própria Emma. Não é isso que a Jane quer que vejamos nesses personagens. O que ela talvez queira que a gente veja e que Emma só descobre no final é que aquelas pessoas tem coisas boas a oferecer, se a gente olhar acima da camada de tolice e defeitos do tipo. Emma, que se acha superior e toda poderosa por ser rica, inteligente e bonita é quem merecia nosso riso o tempo todo. Além disso, outra coisa que contribuiu para eu me sentir atraída por esse livro a princípio e depois pela minha mudança de opinião em relação a ele é que ele explora um dos meus “Motivos literários” preferidos, que é o do amor entre melhores amigos. Cheguei cheia de expectativas em cima do Knightley e no início eu não sabia se ele era um chato estraga prazeres ou a voz da consciência de que a Emma necessitava. De qualquer forma, ele parecia bem superior a ela em inteligência e eu não via como isso poderia dar certo. Só depois de ver a série (adaptação maravilhosa, por sinal) é que passei a pensar nele menos como a voz da consciência e mais como um protetor. Ele não dava todas aquelas lições de moral porque queria exibir a inteligência e sabedoria de vida superiores e sim porque queria proteger a querida Emma. E só ele, com todos aqueles anos de convivência, poderia amá-la verdadeiramente. Porque só ele enxergava além da riqueza, beleza e futilidade, coisas que nem eu enxerguei durante muito tempo. Então talvez eu nunca entenda porque esse é o livro favorito da J. K. Rowling, ainda acho que ele tem sérios problemas de ritmo e passagens desnecessárias aos borbotões, mas aprendi a admirar Emma com o tempo, como Knightley fez e isso é um grande mérito para as habilidades da escritora: bagunçar a cabeça da gente a ponto de assumirmos como nossas opiniões da personagem e, mesmo não gostando dessa tal personagem, reproduzir essa opiniões que acreditamos dela, até enxergamos com mais clareza não só ela, mas tudo sobre o que ela opinava.

O que eu sinto em relação a ele?: 

Sinto que Emma é um gosto adquirido, como cigarro ou álcool e que preciso de uma releitura à luz de todas essas coisas que vieram nesse ano que se passou para compreendê-lo melhor. Mas uma coisa eu sempre senti: aquele final é muito fofo!!!!! A Emma dizendo pro Knightley que nunca vai conseguir deixar de chamá-lo de senhor foi muito cute cute *-* *-*

5º: Razão e Sensibilidade:

Porque o segundo livro mais conhecido da autora está em quinto lugar nessa lista de cinco? Vamos descobrir.

Quando e como li?: Esse foi o segundo livro da autora que eu li, como quase todo mundo faz. É quase automático: você lê O&P, ama e depois corre atrás de qualquer coisa escrita pela Jane Austen, encontra R&S, se decepciona e cabe à sua natureza decidir se ainda vale a pena procurar outras coisas dela ou não. Como vocês viram, eu procurei, mas não é sempre assim. Mas vamos manter o foco. Na mesma livraria, hoje falida, em que encontrei O&P, encontrei também R&S, na mesma edição da Martin Claret inclusive, e comprei os dois no mesmo dia porque estava baratinho demais e eu tinha um fogo que precisava ser apagado. Achei lento e sem sentimento, ao contrário do que pregava o título e tanto me foi uma leitura indiferente que ano passado acabei relendo pensando que nunca tinha chegado à terminá-lo. O tema das irmãs inseparáveis se repete e eu comecei a achar que essa autora só sabia escrever sobre isso. E o clima meio parado e sem diálogos não ajudava a dar emoção pra trama. Então não, não gostei particularmente desse livro e ele ficou jogado na minha estante por muito tempo sem maiores atenções. E ao contrário de Emma, a adaptação em série (apesar de boa e com direção de arte linda) e o tempo não mudaram minha opinião.

Porque está nessa posição na lista?:

Apesar de eu enxergar algumas qualidades nele, como a dualidade razão e emoção que esteve tão em voga na Europa do romantismo e a surpresa (de fato surpreendente) que o livro trás, o fato de ele ser tão parado como comentei ali em cima e não ter me trazido nenhum emoção prejudicou bastante minha opinião. Descobrir que ele originalmente fora escrito em formato epistolar justificou a falta de diálogos e ritmo, mas não o fez parecer melhor. Também não há humor, aliás é o livro menos bem-humorado da autora, ao lado de Persuasão. Mas Persuasão tem um razão de ser para essa falta de humor, enquanto R&S não. Acho as heroínas bem irritantes. Não consigo gostar nem me identificar com nenhuma delas, justamente por seus exageros, uma com o excesso de emoção que cai na pieguice e outra com a completa ausência, que cai na insossidão. Os heróis também não fedem nem cheiram. Capitão Brandon não me empolga e foi meio Deus Ex Machina casar ele com a Marianne no final. Marianne devia ter ficado sozinha até amadurecer e ponto. O Edward até que tem princípios, mas não tem muita personalidade. Gosto do fato de o Willoughby não ser um canalha total e realmente amar a Marianne, porque isso o torna um personagem mais complexo, mas tirando isso, não vejo nenhuma outra qualidade.

O que eu sinto em relação a ele?: 

É o livro mais indiferente da Austen pra mim. Não fede nem cheira. Não é ruim, não é bom, não há excessos de nenhuma maneira, talvez somente o excesso de retidão. Enfim, não há nada memorável. A única coisa que me causa sentimento é lembrar da sensação de empolgação com que comecei a lê-lo, depois de O&P me marcar tanto, mas essa lembrança não tem tanto a ver com ele e sim com seu parente famoso e maravilhoso.

Quando ler Mansfield Park posso editar esse post para acrescentá-lo ao top e vocês podem ver um retrato completo da obra da autora sob a minha ótica, mas por enquanto, isso é tudo sobre os livros de autoria dela que tenho a dizer. Espero que vocês entendam como uma autora tem que ser especial para com apenas cinco livros na minha lista de lidos provocar uma avalanche de posts especiais como essa. Gostaria que ela tivesse escrito mais. Que eu tivesse um casal austeneano para torcer todo ano e para revisitar sempre nos intervalos. Em outro post falarei de como essas leituras me influenciaram na visão de mundo e nas minhas aspirações acadêmicas e falarei sobre todos os aspectos de Jane Austen na minha vida, aguardem.

 

 

 

O Que Eu Estou Lendo? – Emma – Jane Austen

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Desde que comecei na minha vida de fã de literatura, a Jane Austen tem feito parte dela. A bola da vez nas minhas descobertas austinianas é Emma. Sim, aquele que inspirou As Patricinhas de Beverly Hills, lembra? Pois é, me processem, mas gostei mais da adaptação adolescente dos anos 90 do que do clássico do século XIX. Pelo menos até agora. Aí você deve estar pensando que existe alguma coisa muito errada com um livro do qual eu gosto menos do que sua adaptação clássica da Sessão da Tarde, mas não tem bem uma grande coisa errada até agora.

O livro tem uma protagonista incomum para os padrões austinianos, que é a Emma que lhe dá nome. Ela não é regida pela razão, nem tem concepções avançadas da vida, não tem um senso de humor ou uma inteligência especialmente acurados, é rica e bonita e não está interessada em casamento, ou pelo menos diz que não está, e com seu abundante tempo livre se dedica a arranjar casamentos para suas amigas. Há algum tempo atrás quando eu ainda era bem mente fechada com relação à futilidade, uma sinopse como essa me daria nojo. Hoje, no entanto, quando estou cada vez mais avançada no caminho de me tornar fútil e consequentemente bem mais compassiva com a futilidade dos outros, me vi sem nada a dizer contra Emma, a protagonista. Ela é fútil? Sim, mas todas as protagonistas dos amados chick-lits de hoje em dia também o são e não vejo muita gente reclamando. Uma mulher do século XIX tem muito mais direitos de ser superficial do que nós, por isso não a julgo.

O que julgo que não tem me agradado nesse livro é o excesso. De páginas vazias. Sabe aqueles livros de 500 páginas que você tem certeza de que com 300 estaria tudo terminado? Esse livro é exatamente assim. Nas primeiras 100 páginas não acontece absolutamente nada, exceto a apresentação dos personagens principais e de suas personalidades. É divertido, mas não é muito prático. Essas cem páginas poderiam ter se transformado facilmente em 50.

Tirando a falta de conflitos reais de Emma e seu excesso de páginas fantasma, tenho gostado do livro. É irônico como toda obra da Austen, mas também tem uma aura de inocência, em grande parte devido à personagem principal que em seus outros livros não aparece. Acho que gosto disso.

Por enquanto, isso é tudo que tenho a falar. Acompanhem-me os que não veem problemas em superficialidade. Os que virem podem procurar um romance da Clarice Lispector e me deixar em paz.

 

Resenha: Persuasão – Jane Austen

Não é segredo nenhum a minha paixão por Jane Austen, em especial por Orgulho e Preconceito. Além do fato de que o livro citado é uma obra extremamente bem-escrita, destinada a virar clássico eterno, com críticas a sociedade rural irônicas e bem-humoradas e o herói romântico perfeito como um nome sonoro Mr. Darcy, este livro não poderia ser superado por nenhum outro por causa do meu apego sentimental a ele, resultante das 12 vezes que assisti a série da BBC inspirada nele com o Colin Firth seduzindo com vigor como Mr. Darcy, e do fato de que foi o start da minha vida austiniana. Mas aí, aparece Persuasão, e fica bem perto disso. Depois do meu queridinho OP, eu já tinha lido Razão e Sensibilidade, que apesar de ser um bom livro, não chegou nem aos pés do que eu esperava. Então, numa livraria qualquer eu encontrei Persuasão baratinho, numa edição de bolso superbonita, dando sopa e resolvi comprá-lo. Não tinha qualquer expectativa quanto a ele, e acho que esse foi um dos motivos para ter me surpreendido tanto.

Persuasão narra a história de Anne Elliot, uma mulher de 27 anos subestimada pela família e um tanto amargurada pelo arrependimento de ter desfeito o noivado com o Capitão Wentworth, homem que ela amava, sete anos antes. Persuasão, além de quebrar a linha de títulos que Orgulho e Preconceito e Razão e Sensibilidade carregavam, também quebra a ideia de irmãs unidas que aparecia nos outros dois. Anne Eliott, ao contrário de Elizabeth e Eleanor, não é querida pelas irmãs, nem a mais velha, nem a mais nova, que são, respectivamente, egocêntricas e tolas demais para enxergar o valor da sensata e boa Anne. O romance também é mais maduro, não só porque os personagens principais são mais velhos, mas também porque o romance dos protagonistas tem um rompimento bastante longo que ensina a ambos coisas importantes sobre o amor.

Gosto bastante do fato de o romance focar em apenas um casal, ao contrário dos outros dois, e também adooooooooro o capitão Wentworth, o que não aconteceu com o Edward de Razão e Sensibilidade. Wentworth é bonito, simpático, inteligente, bem-humorado e depois de alguma persuasão, capaz do dificílimo ato de perdoar. Acho que personagens que têm que aprender a perdoar são o tipo mais complexo que pode existir.

Como é a marca registrada da Jane, o livro também tem as críticas à sociedade, dessa vez àquele tipo de gente muito comum na Inglaterra da época da Austen, que tem um orgulho ridículo de títulos de nobreza que nada fizeram para merecer e que acham que o resto do mundo é inferior por não tê-los.

Por todos esses motivos, Persuasão é altamente recomendável não apenas para quem é fã da Austen como eu, mas para todos aqueles que apreciam um livro bem escrito, e um romance inteligente.

Resenha: Orgulho e Preconceito – Jane Austen

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Este livro é o clássico dos clássicos. Tanto já foi dito e redito sobre ele que qualquer coisa que eu diga será chover no molhado. Mas, mesmo assim, é preciso falar sobre ele.

Orgulho e Preconceito é a história das irmãs Bennet, cinco moças empenhadas no que era basicamente o objetivo das mulheres do início do século XIX: casar. Com uma ironia fina, Jane Austen conta como a chegada de um homem rico e solteiro na aldeia muda a vida da família Bennet, e principalmente das duas filhas mais velhas, Jane e Elizabeth. E é claro, sobre o romance, ouso dizer, mais famoso do mundo, depois de Romeu e Julieta, entre Elizabeth e o Mr. Darcy, inicialmente tido como arrogante, mas que depois vai revelando seu verdadeiro caráter.

Há quem torça o nariz para a literatura de Jane Austen por julgá-la apenas uma antecessora dos romances água com açúcar que dominariam as listas dos mais vendidos futuramente, mas eu não concordo e tenho vários motivos para isso. O talento de Jane é inegável, e ele está especialmente afiado neste livro, com personagens perfeitamente bem-construídos, retrato social bem pautado e um enredo apaixonante, ela conseguiu em Orgulho e Preconceito tudo o que um livro precisa ter, e entrou para sempre no hall da fama dos livros imortais.

Mas voltando à minha opinião pessoal, o livro, apesar de ser antigo, não ter muitas semelhanças com minha realidade e ter um vocabulário bem diferente do que se usa hoje em dia, conseguiu me conquistar imediatamente. Tanto que já o reli 5 vezes. Em todas as 5 não consegui deixar de rir da ironia da Elizabeth, suspirar pelo Mr. Darcy e de me irritar com a mãe dela. Li em algum lugar que para que seja considerado um grande romance o livro tem que ter boas abordagens social e psicológica, bom enredo e bons personagens, e se isso for verdade, então Orgulho é Preconceito é grande romance. Tanto é que em listas de melhores romances de todos os tempos feitas por revistas e jornais conceituados no ramo da literatura, Orgulho e Preconceito está sempre entre os dez mais.

É claro que grande parte das suas leitoras, prestam mais atenção ao romance de Darcy e Elizabeth do que a qualquer outra coisa, e me incluo nisso, mas é necessário que se atente para as qualidades literárias deste livro. No entanto é inevitável não se envolver com o casal principal, mesmo que eu seja uma mulher cética do século XXI que não acredita no casamento e que não ache que seja romântico não poder separar-se de um homem, dever submissão a ele e ainda ter que chamá-lo de Sr. durante toda a vida, o que é provavelmente o que aconteceria com Elizabeth se ela e Darcy realmente existissem.

O sucesso do livro é tanto que, mesmo depois de passados duzentos anos de sua publicação, ainda ganha novos fãs como eu. As adaptações também são inúmeras. Indico o filme homônimo de 2005, dirigido por Joe Wright e protagonizado por Keira Knightley (não aguento mais ela) e Matthew MacFadyen (sem sal) que tira a aura idílica e dá um tom mais realista à história, e totalmente recomendo a série da BBC  de 1995, que tem o perfeito Colin Firth como Mr. Darcy e a maravilhosa Jennifer Ehle como Lizzy. Pra quem quer uma coisa mais sutil e leve tem também O Diário de Bridget Jones, tanto o livro quanto o filme, que foram inspirados em Orgulho e Preconceito.

De qualquer modo, acho que todos deveriam ler Orgulho e Preconceito, e desafio qualquer um a não se apaixonar por ele.

Skoob