O post de hoje será inteiramente dedicado a uma das minhas escritoras favoritas, definitivamente minha escritora mulher favorita, Jane Austen. A quantidade de posts sobre ela neste blog já é gigantesca, mas vou fazer um apanhado geral de todos esses posts, de todos os livros, de todas as adaptações, enfim, de tudo que já consumi e produzi sobre ela.
Pra começar preciso dizer que ainda me falta um livro e algumas histórias curtas dela para ler, mas essa falta logo será corrigida porque comprei Mansfield Park (o dito cujo que me falta) e pretendo ler muito em breve. As histórias curtas são esboços de romances inacabados, como Lady Susan (de autoria questionada) ou contos que Jane escreveu para os serões em família na sua casa culta, como os que estão reunidos no volume Juvenília, que também pretendo ler em breve.
Mas esta parte 1 do especial eu quero dedicar aos livros de autoria dela que já li. Para isso vou fazer uma lista por ordem de preferência e comentar um pouco sobre cada um deles.
1º- Orgulho e Preconceito: Me dói profundamente não colocar Persuasão em posição de empate em primeiro com O&P, mas tenho que admitir que Orgulho e Preconceito é mais bem acabado e tenho mais amor por ele. Ouso pensar que se Jane tivesse dedicado tanto tempo para revisar Persuasão como dedicou a revisar este, os dois teriam se igualado em qualidade, mas o foco aqui agora é O&P.
Quando e como li?: Acho que eu tinha doze anos quando o li pela primeira vez. Encontrei na biblioteca da minha escola (maravilhosa biblioteca, por sinal) uma edição resumida, com ilustrações de época bem bonitas, e uma amiga já me indicara, indicando inclusive o filme, então decidi ler. Lembro de ter devorado rapidamente e de ter sentido frio na barriga com cada interação Darcy/Elizabeth. Como era uma versão com muitos cortes, quase toda a riqueza estilística foi perdida, assim como grande parte da crítica social e do apuro psicológico das descrições dos personagens. Depois disso, por algum milagre a que serei grata eternamente, encontrei na única livraria da minha cidade (falida hoje em dia, por sinal) um exemplar da edição da Martin Claret, que hoje em dia reside acabadinho e cheirando a mofo na minha estante. Era a versão integral e ainda mais maravilhosa. Lembro de ter lido em transe hipnótico até a parte da fuga da Lydia, que foi bem chata para mim, mas no cômputo geral a experiência foi tão incrível que comecei a reler o livro a intervalos regulares e com um entusiasmo incansável, que só diminuiu no ano passado. Daí para o consumo maníaco de adaptações foi um pulo. E estamos aí até hoje.
Porque está nessa posição na lista?: Como eu disse mais acima, meu coração de janita/janete ou o que seja, fica sempre fortemente dividido entre O&P e Persuasão, mas numa análise estritamente literária, Orgulho e Preconceito é melhor. Não só porque é melhor acabado, mas porque os personagens são extremamente bem construídos e a ironia fina da autora está no seu auge e todas as tramas são bem aproveitadas e bem resolvidas. A reflexão sobre primeiras impressões também é extremamente válida (assim como outras reflexões que ele me despertou em diferentes momentos) e o enredo é ótimo e empolgante.a
O que eu sinto em relação a ele?: Partindo para o lado mais pessoal, Orgulho e Preconceito provavelmente sempre será meu preferido porque me iniciou no mundo mágico de Jane Austen e foi um sentimento único amar este livro e relê-lo tantas vezes a ponto de já saber de cor parágrafos inteiros e se eu tivesse que dar uma definição de lar, essa definição seria a sensação de abrir o meu exemplar surrado da Martin Claret, com o cheiro que eu tanto conheço e ler a primeira frase que eu conheço melhor ainda (“É uma verdade universalmente conhecida que um jovem possuidor de boa fortuna deve estar em busca de uma esposa”) e saber que vou encontrar Darcy e Elizabeth dançando no baile de Netherfield e Lydia e Kitty correndo atrás de oficiais e a Sra. Bennet reclamando de seus pobres nervos e o Sr. Bennet atirando sarcasmo como um franco-atirador e Jane e Bingley sendo a coisa mais pura do mundo. E eu vou sempre ter isso. Vou sempre ter estas palavras, escritas há duzentos anos por uma mulherzinha no interior da Inglaterra e vou sempre ter despertas por elas as lembranças de todas as versões de mim que leram esse livro e todas as coisas que pensei sobre ele nesses diferentes momentos e todos os amigos que fiz em função dele e todas as coisas que vivi por causa dele. É por isso que Orgulho e Preconceito sempre será um dos meus livros favoritos, não importa o que eu leia depois, não importa quem eu me torne. Porque esse livro já está tatuado em mim. Cada palavra. Cada personagem. Cada situação. Ele é sagrado pra mim. Além de tudo isso sempre sinto que Jane, eu e as outras mulheres temos uma piada interna que os homens não entendem e essa piada é esse livro. Vida longa a Orgulho e Preconceito (já estou com vontade de reler!).
2º- Persuasão: A Coruja (de quem vou falar mais em outro post) é uma das pessoas que mais admiro no ramo das adoradoras de Jane Austen e é umas das pessoas com quem minha opinião mais bate. O protagonista austiniano preferido dela é o Wentworth de Persuasão assim como o meu e as questões que ela levanta sobre o livro nessa análise maravilhosa que você pode ler aqui, aqui, e aqui são extremamente pertinentes pra mim. Então fica o link pra quem quiser conhecer. Mas vamos ao que interessa.
Quando e como li?: Minha história com Persuasão começou em 2014, o ano mais literariamente prolífico da minha até agora que teve o começo de ano literário mais maravilhoso da minha vida até agora. Eu só estava lendo livro bom e a maré de sorte se estendeu a esse livro, que eu comprara numa livraria um tempo antes. Foi o terceiro livro da Austen que li e depois da experiência meio decepcionante que tive com Razão e Sensibilidade, o segundo, sobre o qual vou falar mais adiante, eu entrei no barco meio com o pé atrás. Mas logo eu estava tão enredada na história que já nem lembrara mais de razão alguma. Li super rápido e saí por aí indicando pras amigas de cara, porque meu amor por esse livro foi imediato, ainda que não imediatamente profundo. Falarei mais sobre isso mais à frente.
Porque está nessa posição na lista?: Como eu disse, Persuasão parece não tão bem acabado como O&P, talvez por não possuir a mesma quantidade de revisões. Do meio para o fim, ele é meio cru e de um modo geral difere de tudo que a Austen escreveu. Mas está nessa posição porque é o mais maduro dos livros dela, um dos mais bem escritos (por não perder tempo com aquilo que não é pertinente à história), pela profundidade e pelos personagens incríveis e queridíssimos. É um livro triste e melancólico, tem toda uma aura de nostalgia, de chance perdida que me faz pensar no quanto a Jane era talentosa, porque CARALHO, sair do riso descarado que Emma é, para toda a dor de Persuasão é difícil. A crítica social também está bastante presente, mas agora se volta mais para a aristocracia tola, ultrapassada e vaidosa, representada pelo pai de Anne, o Sr. Elliot, coisa que não ocorrera antes. A ausência de autonomia da juventude também é de certo modo criticada, na medida em que a Jane tenta estabelecer que ouvir conselhos é bom, desde que você tenha discernimento suficiente pra saber se aquilo será bom pra você ou não.
O que eu sinto em relação a ele?: Meu sentimento geral quando penso nesse livro é de identificação. Acho que das heroínas Austenianas a que mais me identifico é a Anne Eliot e dos heróis o meu preferido, o que senti conexão imediata foi o Capitão Wentworth, então me enxergo muito nesses personagens. Como falei num post intitulado Anne Eliot e eu, a Anne é a protagonista mais indiferente para os leitores. Ela não é a mais odiada, nem a mais amada. Ela não é nem sequer vista, na maior parte do tempo. Isso porque a personalidade doce, comedida e madura dela é menos atraente do que as personalidades ruidosas e fortes de Emma, Marianne ou Elizabeth, do mesmo modo que não provoca o escárnio ou a pena que as outras heroínas mais tolas ou mais chatas provocam. E apesar de a princípio eu também parecer ruidosa e forte, com meus discursos feministas e posicionamentos ideológicos fortes, no fundo eu sou tão silenciosa e “overlooked” como a Anne. Eu me identifico com o medo que ela sente de não ter uma segunda chance, com o medo que ela teve de ser feliz na juventude, com o medo que ela tem. Esse também é o único livro da autora em que o foco realmente é o romance e por isso, esse aspecto é explorado de forma mais passional. A gente tem os protagonistas abrindo seus corações de um jeito que nenhum outro personagem faz e é tão delicado e bonito que eu me pego desejando um romance assim, constante e forte e doce, mais do que o de O&P. E também acho que os protagonistas austeneanos que tem mais chances de um casamento feliz são os simpáticos, inteligentes, adoráveis e de temperamento tranquilo Anne e Frederick. Puro amor ❤ ❤ ❤
3º- A Abadia de Northanger: O primeiro romance escrito pela minha diva (mas, por ironias do destino e de uma editora relapsa, o último a ser publicado, junto com Persuasão) e talvez por isso o mais despretensioso. Como o personagem do Hugh Dancy diz em O Clube de Leitura de Jane Austen nesse livro você vê a Jane às voltas com questões criativas como “O que faz uma heroína?” ou “O que faz um bom romance?”.
Quando e como li?: Eu já estava morta de vontade de lê-lo há muito tempo e aí acabei encontrando novo e baratíssimo no melhor livreiro da Estante Virtual, o Velho Buk, e agarrei minha chance de pôr as mãozinhas nele. O problema é que a edição que comprei, apesar de nova, baratíssima e bilíngue, tinha uma tradução horrível, das piores dos últimos tempos. Landmark, vocês me traumatizaram, não compro mais nem livro de receita publicado por vocês. Isso me incomodou bastante porque prejudicou a minha compreensão do livro. Em certos momentos, quando a tradução chegou a me fazer pensar que um homem estava dizendo uma coisa que na verdade uma mulher estava dizendo, tive que recorrer à parte em inglês para tirar a dúvida. E nem preciso mencionar o monte de “sensible” traduzido como “sensível”. É uma vergonha. Mas voltando ao ponto, A Abadia ficou guardadinho na minha estante até o mês do clube do livro, que se não me engano foi Abril, em que combinamos de lê-lo todas juntas. Meu ritmo de leitura foi ótimo, bem melhor do que o meu ritmo com os outros livros fora do “cânone austeneano” (entenda-se por “cânone austeneano” os livros da autora com mais reconchecimento: Orgulho e Preconceito, Razão e Sensibilidade e Persuasão). E a discussão no clube foi bastante agradável, porque todas nós estávamos super felizes de ler algo novo da nossa autora preferida.
Porque está nessa posição na lista?:
Até a leitura desse livro eu não sabia se colocava Razão e Sensibilidade ou Emma nessa posição, mas ele veio e clareou meu Top Austen. Isso porque apesar de ser imaturo e de ter um final muito abrupto, ele tem um senso de humor tão ácido, talvez por não ter sido ainda podado, que me fez dar gargalhadas altas apesar da tradução ruim. Além disso eu adoro o fato de este ser um romance sobre a leitura de romances, em que Austen parodia os romances em voga na sua época, os tais romances góticos que equivaleriam aos romances de banca de hoje, utilizando-se das suas temáticas favoritas: moças ingênuas e prédios antiquíssimos. Talvez a crítica dela não seja tanto a esses romances, mas ao público leitor não confesso deles, como o John Thorpe, patife pretensioso que me dá ânsia de vômito só de lembrar, que dizia não ler romances por uma série de motivos tão pretensiosos quanto ele, mas que sabia de cor a história de um dos mais famosos e tórridos da época. E tudo isso deu margem para Jane falar sobre o preconceito contra os romances, ela, leitora e escritora confessa dos ditos cujos, criticada por se dedicar a esse gênero, que na época era considerado majoritariamente feminino e talvez, justamente por isso, subestimado e visto como literatura menor. Se formos parar pra pensar nessa questão, vamos perceber que só quando os homens começaram a se dedicar ao romance foi que ele passou a ser melhor considerado e isso não diz muito sobre a questão da mulher na literatura? Porque aí está um gênero produzido por mulheres, sobre mulheres, para mulheres, que não era considerado “sério” o suficiente para ser respeitado. Ponto para Austen por mostrar isso.
O que eu sinto em relação a ele?:
Uma das coisas que mais gosto na literatura em geral é o humor na hora de abordar os temas que poderiam cair no erro de serem levados a sério demais. É por isso que amo Machado de Assis, Nabokov e Jane Austen. Porque eles sabem até onde podem se levar a sério. Esse romance tem um valor especial pra mim porque é o mais hilário, espontâneo, ingênuo e leve da autora, mas nem por isso superficial. Pois apesar de tudo isso, ele realiza o que se propõe. É uma boa paródia, os personagens são bem construídos (identifiquei muita gente que eu conheço nesses personagens tolos de 200 anos atrás, principalmente na rainha das falsianes, Isabela Thorpe) e as questões secundárias também são bem desenvolvidas. Henry Tilney nunca vai ser dos meus heróis favoritos, porque ele parece demais comigo em alguns aspectos, como o excesso de sarcasmo, e como vocês sabem, dois bicudos não se beijam. Mesmo assim eu o entendo e o respeito por ter sido uma espécie de guia do bem para a fofíssima Catherine, que eu queria adotar e dizer que o bicho papão não mora no armário. A propósito, também me identifico bastante com ela, chegando naquele mundo novo e hostil com sua inexperiência e boa vontade. Coraçõezinhos eternos pra ela. Preciso de mais motivos pra gostar desse livro? Acho que não.
4º – Emma: Pensei bastante em colocar Razão e Sensibilidade nessa posição, porque minha relação com Emma teve altos e baixos e se eu for sincera, mais baixos do que altos, mas no cômputo geral Emma sai ganhando em pontos cruciais que falarei mais adiante.
Quando e como li?: No ano passado, conheci minha amiga que faz parte do Clube do Livro comigo. Ela era, como eu fã de Jane Austen. Eu emprestei Persuasão pra ela e ela me emprestou Emma, numa troca bem justa. A edição dela era aquela da Saraiva com caricaturas horrorosas dos autores, mas bem traduzida de modo que não foi a tradução que prejudicou minha leitura como aconteceu com A Abadia. O que me prejudicou de fato foi o que na época eu chamei de “enrolação”. Nada acontecia. Absolutamente nada. Só intrigas amorosas que nem envolviam o mocinho que eu gostava. A Emma me parecia superficial e irritante, prejudicando os outros o tempo todo e nem de longe tão carismática quanto em As Patricinhas de Beverly Hills (a única adaptação que eu assistira do livro até então e sobre a qual falarei em outro post). Tudo isso, somado ao fato de que as coisas só começam a se resolver lá depois da página 400 me deixou com um sono e um tédio que me fizeram tomar a atitude vergonhosa de pular umas páginas até a parte em que Knightley entra em ação de verdade e a Emma para de ser obtusa. Shame on me, really.
Porque está nessa posição na lista?:
Antes de ler A Abadia de Northanger esse me parecia ser o livro da Jane Austen mais dedicado à paródia, ao escárnio, ao riso escrachado da sociedade rural e de seus tipos. Mantenho a opinião de que ele é um dos mais engraçados, mas já não acho que seja dedicado ao escárnio. Esse ano que se passou desde a minha primeira leitura me fez enxergar muitas coisas que eu não enxergara antes nesse livro. Pra começar que quem ri escrachadamente daqueles tipos não é a autora e sim a própria Emma. Não é isso que a Jane quer que vejamos nesses personagens. O que ela talvez queira que a gente veja e que Emma só descobre no final é que aquelas pessoas tem coisas boas a oferecer, se a gente olhar acima da camada de tolice e defeitos do tipo. Emma, que se acha superior e toda poderosa por ser rica, inteligente e bonita é quem merecia nosso riso o tempo todo. Além disso, outra coisa que contribuiu para eu me sentir atraída por esse livro a princípio e depois pela minha mudança de opinião em relação a ele é que ele explora um dos meus “Motivos literários” preferidos, que é o do amor entre melhores amigos. Cheguei cheia de expectativas em cima do Knightley e no início eu não sabia se ele era um chato estraga prazeres ou a voz da consciência de que a Emma necessitava. De qualquer forma, ele parecia bem superior a ela em inteligência e eu não via como isso poderia dar certo. Só depois de ver a série (adaptação maravilhosa, por sinal) é que passei a pensar nele menos como a voz da consciência e mais como um protetor. Ele não dava todas aquelas lições de moral porque queria exibir a inteligência e sabedoria de vida superiores e sim porque queria proteger a querida Emma. E só ele, com todos aqueles anos de convivência, poderia amá-la verdadeiramente. Porque só ele enxergava além da riqueza, beleza e futilidade, coisas que nem eu enxerguei durante muito tempo. Então talvez eu nunca entenda porque esse é o livro favorito da J. K. Rowling, ainda acho que ele tem sérios problemas de ritmo e passagens desnecessárias aos borbotões, mas aprendi a admirar Emma com o tempo, como Knightley fez e isso é um grande mérito para as habilidades da escritora: bagunçar a cabeça da gente a ponto de assumirmos como nossas opiniões da personagem e, mesmo não gostando dessa tal personagem, reproduzir essa opiniões que acreditamos dela, até enxergamos com mais clareza não só ela, mas tudo sobre o que ela opinava.
O que eu sinto em relação a ele?:
Sinto que Emma é um gosto adquirido, como cigarro ou álcool e que preciso de uma releitura à luz de todas essas coisas que vieram nesse ano que se passou para compreendê-lo melhor. Mas uma coisa eu sempre senti: aquele final é muito fofo!!!!! A Emma dizendo pro Knightley que nunca vai conseguir deixar de chamá-lo de senhor foi muito cute cute *-* *-*
5º: Razão e Sensibilidade:
Porque o segundo livro mais conhecido da autora está em quinto lugar nessa lista de cinco? Vamos descobrir.
Quando e como li?: Esse foi o segundo livro da autora que eu li, como quase todo mundo faz. É quase automático: você lê O&P, ama e depois corre atrás de qualquer coisa escrita pela Jane Austen, encontra R&S, se decepciona e cabe à sua natureza decidir se ainda vale a pena procurar outras coisas dela ou não. Como vocês viram, eu procurei, mas não é sempre assim. Mas vamos manter o foco. Na mesma livraria, hoje falida, em que encontrei O&P, encontrei também R&S, na mesma edição da Martin Claret inclusive, e comprei os dois no mesmo dia porque estava baratinho demais e eu tinha um fogo que precisava ser apagado. Achei lento e sem sentimento, ao contrário do que pregava o título e tanto me foi uma leitura indiferente que ano passado acabei relendo pensando que nunca tinha chegado à terminá-lo. O tema das irmãs inseparáveis se repete e eu comecei a achar que essa autora só sabia escrever sobre isso. E o clima meio parado e sem diálogos não ajudava a dar emoção pra trama. Então não, não gostei particularmente desse livro e ele ficou jogado na minha estante por muito tempo sem maiores atenções. E ao contrário de Emma, a adaptação em série (apesar de boa e com direção de arte linda) e o tempo não mudaram minha opinião.
Porque está nessa posição na lista?:
Apesar de eu enxergar algumas qualidades nele, como a dualidade razão e emoção que esteve tão em voga na Europa do romantismo e a surpresa (de fato surpreendente) que o livro trás, o fato de ele ser tão parado como comentei ali em cima e não ter me trazido nenhum emoção prejudicou bastante minha opinião. Descobrir que ele originalmente fora escrito em formato epistolar justificou a falta de diálogos e ritmo, mas não o fez parecer melhor. Também não há humor, aliás é o livro menos bem-humorado da autora, ao lado de Persuasão. Mas Persuasão tem um razão de ser para essa falta de humor, enquanto R&S não. Acho as heroínas bem irritantes. Não consigo gostar nem me identificar com nenhuma delas, justamente por seus exageros, uma com o excesso de emoção que cai na pieguice e outra com a completa ausência, que cai na insossidão. Os heróis também não fedem nem cheiram. Capitão Brandon não me empolga e foi meio Deus Ex Machina casar ele com a Marianne no final. Marianne devia ter ficado sozinha até amadurecer e ponto. O Edward até que tem princípios, mas não tem muita personalidade. Gosto do fato de o Willoughby não ser um canalha total e realmente amar a Marianne, porque isso o torna um personagem mais complexo, mas tirando isso, não vejo nenhuma outra qualidade.
O que eu sinto em relação a ele?:
É o livro mais indiferente da Austen pra mim. Não fede nem cheira. Não é ruim, não é bom, não há excessos de nenhuma maneira, talvez somente o excesso de retidão. Enfim, não há nada memorável. A única coisa que me causa sentimento é lembrar da sensação de empolgação com que comecei a lê-lo, depois de O&P me marcar tanto, mas essa lembrança não tem tanto a ver com ele e sim com seu parente famoso e maravilhoso.
Quando ler Mansfield Park posso editar esse post para acrescentá-lo ao top e vocês podem ver um retrato completo da obra da autora sob a minha ótica, mas por enquanto, isso é tudo sobre os livros de autoria dela que tenho a dizer. Espero que vocês entendam como uma autora tem que ser especial para com apenas cinco livros na minha lista de lidos provocar uma avalanche de posts especiais como essa. Gostaria que ela tivesse escrito mais. Que eu tivesse um casal austeneano para torcer todo ano e para revisitar sempre nos intervalos. Em outro post falarei de como essas leituras me influenciaram na visão de mundo e nas minhas aspirações acadêmicas e falarei sobre todos os aspectos de Jane Austen na minha vida, aguardem.