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1. Sem a menor condição de ir: um livro que você quer muito, mas está caro

Nos últimos tempos tudo no mercado editorial tá caro demais, mas os livros que eu mais desejo no momento e que estão fora do meu alcance são Café da Manhã dos Campeões do Kurt Vonnegut, que está por 38 reais na Amazon na edição da Intrínseca, e Pessoas Normais da Sally Rooney que está por 40. Agora que estou entendendo um pouco mais sobre mercado literário por conta do curso de produção editorial que acabei de fazer, tenho plena ciência de que esse preço é justo para a qualidade do trabalho e do material que essas editoras usam, a questão é que realmente não tenho como comprar livros de 40 reais no momento.

2. Não veio: um livro que você tinha muita expectativa, mas te decepcionou

Vocês já sabem sobre a minha decepção com O Peso do Pássaro Morto da Aline Bei, então vou só chover no molhado agora. Esse título é muito bonito e a ideia do livro (que inclusive é um romance de formação) é muito boa, mas a execução é terrível. Não acontece absolutamente nada de bom na vida inteira dessa mulher, tudo é muito apelativo e graficamente deprimente e detesto a estrutura que tenta ser prosa poética, mas são apenas linhas de prosa quebradas. Quase me doeu fisicamente terminar essa leitura e me doeu muito mais que eu estivesse tão empolgada com ela.

3. Vem aí ou não vem essa porra?: um livro encalhado que você está enrolando pra ler

Rebecca da Daphne du Marier já estava encalhado na minha estante há anos e eu ainda não considero ele desencalhado porque estou enrolando muito pra continuar a leitura depois das primeiras 50 páginas. De livros que eu ainda nem comecei os que mais enrolo são os livros do que eu chamo de meu ataque da ficção científica, que eu comprei numa fase em que achava que ia ser uma grande fã de sci-fi, colecionadora dos livros da Aleph, discípula de Asimov: Neuromancer do William Gibson e Andróides Sonham Com Ovelhas Elétricas do Phillip K. Dick. Só a misericórdia dos anjos do sci-fi podem me ajudar a desencalhá-los.

4. Não quero ir: um livro que você tem receio de ler

Os dois livros que escolhi citar aqui me provocam receio por motivos muito diferentes. Comer Animais do Jonathan Safran Foer é um livro de não-ficção basicamente sobre comer carne e sobre as consequências éticas, ambientais e de saúde que isso tem. Muitos veganos famosos dizem que esse foi esse livro que os levou a parar de comer carne. Meu receio é porque não tenho um histórico muito bom em concluir leituras de não-ficção mais longas e porque não tenho condições financeiras de cortar a carne totalmente no momento, apesar de já ter cortado a carne vermelha há mais de um ano e meio. Já o segundo é Por Quem os Sinos Dobram do Ernest Hemingway, que é um calhamaço gigantesco sobre guerra escrito pelo Hemingway, com quem tenho uma relação de amor e ódio, então acho que nem preciso explicar meu receio.

5. Por favor não vem: um livro que vivem recomendando, mas você se recusa a ler

Todos os livros do Stephen King, mas principalmente It, A Coisa, Sobre a Escrita e O Iluminado. Não sei de onde começou minha implicância com o King, mas definitivamente não veio dele, porque não tenho nada contra o escritor. Provavelmente ela vem dos fãs insuportáveis, em geral homens jovens brancos de classe média, que acham que são ótimos leitores porque consideram o King o melhor escritor que já existiu. Dois desses livros que eu citei que mais me recuso a ler foram adaptados pra filmes de sucesso e se tem uma coisa que o fã médio de Stephen King acha que é mais do que um bom leitor é um cinéfilo de carteirinha, então tá feito o ranço. O Sobre a Escrita eu já tive vontade de ler, mas depois pensei que talvez não seja a minha praia um livro com dicas de escrita de um homem que escreve um livro por ano e tem uma altíssima opinião sobre si mesmo. Só pra finalizar, queria citar também Os Sete Maridos de Evelyn Hugo da Taylor Jenkins Reid que tenho me recusado a ler até o momento, apesar do hype gigantesco, simplesmente porque tenho medo do hype. Quanto maior o hype maior a decepção, na minha experiência.

6. Será que eu vou?: um calhamaço que você sabe que vai gostar, mas tem preguiça de começar

Eu lembro que li as primeiras páginas de Pássaros Feridos da Colleen McCullough em e-book há muito tempo atrás e me apaixonei pela voz narrativa e pela ambientação na Austrália do fim do século XIX e início do século XX, e sei que vou amar o livro como um todo por ser um romance histórico grandioso bem no estilo E O Vento Levou. O problema é que é um livro longuíssimo que já me dá gatilhos do meu medo de calhamaço só de olhar pra ele na estante.

7. Queria que viesse: um livro que deveria ter continuação ou mais páginas, de tão bom

Nenhum livro precisa de continuação, minha gente, coloquem isso na cabeça de vocês. Se você tá escrevendo pensando em fazer continuação já tá escrevendo errado. Foi até difícil pra mim pensar numa resposta pra essa pergunta porque realmente tô saturada de continuações até o pescoço (ressalte-se a exceção que confirma a regra, que é Wallbanger da Alice Clayton), mas agora que estou relendo Persuasão eu queria muito que ele tivesse mais páginas e que a Jane tivesse tido tempo para revisá-lo como ela provavelmente pretendia. Acho que com 15 anos de revisão, como Orgulho e Preconceito teve, esse livro seria a coisa mais perfeita da carreira dela e é uma pena e uma perda irreparável que ela não tenha podido fazer isso.

8. Não deveria vir aí: uma continuação desnecessária

Eu acho todas as continuações do mundo desnecessárias, exceto as da série Wallbanger da Alice Clayton que eu pagaria milhões pra continuar lendo ad infinitum. No entanto, a continuação mais enfurecedoramente desnecessária que foi anunciada nos últimos tempos foi a de Aristóteles e Dante Descobrem os Segredos do Universo do Benjamín Alire Sáenz. EU CONFIEI NAQUELE ROSTINHO DE AVÔ LATINO BONDOSO QUE ELE TEM, ACHEI QUE ELE NÃO FOSSE ME DECEPCIONAR ASSIM, mas não, ele tem que estragar um romance de formação bonito e sem furos e transformar em sabe deus o que. Não preciso citar Me Encontre do Andre Acciman porque acho que eu e todo mundo que gostou de Me Chame Pelo Seu Nome entrou em consenso de fingir que essa bomba não existe.

9. Vem aí: sua próxima leitura

Acho uma extrema cara de pau pensar na próxima leitura quando ainda preciso terminar Rebecca, A Canção de Aquiles, A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes (com o detalhe de que prometi pra mim mesma que não ia abandonar nenhum livro esse ano) e Daisy Jones and The Six da Taylor Jenkins Reid (que ainda nem sei se posso considerar uma leitura engatada ou não, porque tô bem no comecinho. Mas como sou cara de pau ainda queria muito que desse pra ler Cranford da Elizabeth Gaskell, porque me deu um revival do meu amor por romanções vitorianos, e The Blue Castle da L. M. Montgomery, porque li o começo depois de ele aparecer indicado na minha edição de Persuasion e É ABSOLUTAMENTE INCRÍVEL, MEU TIPINHO, FEITO PRA MIM.

10. Já vai?: uma leitura tão gostosa que você nem percebeu quando acabou

Eu não tenho lido rápido em milênios, então a única leitura relativamente recente que eu posso citar aqui é Pessoas Normais da Sally Rooney, que terminei em uns 4 dias, com dois dias de pausa no meio porque estava muito ocupada. Essa leitura não é necessariamente gostosa, porque ela é muito intensa e a honestidade desconcertante da Sally sobre algumas questões muito complexas e dolorosas chega a ser incômoda, mas tem uma linguagem muito rápida e fluida que faz com que você não perceba que as páginas estão passando e o apego que a gente cria ao Connell e Marianne faz com que você lamente ter que parar de acompanhar a jornada deles tão cedo.

11. Não vim: um livro que todo mundo leu, menos você

A sensação que eu tenho com o tamanho do hype de Os Sete Maridos de Evelyn Hugo da Taylor Jenkins Reid no booktube é de que todo mundo e a mãe de todo mundo já leu esse livro, mas provavelmente é só impressão mesmo. Como disse ali em cima me recuso a ler justamente por isso. Já Teto Para Dois da Beth O’Leary é um caso diferente porque só quem leu foi o mundinho dos Loucos Por Romances, mas TODO MUNDO desse mundinho leu e amou. Tenho um pouco de preguiça desse livro porque ele parece ser daqueles romances românticos que quer fazer pensar  e quando eu leio romanção eu não quero pensar, gente, só quero um escapismo básico e a certeza de um final feliz

12. Talvez venha aí: um livro que você pretende dar uma segunda chance

Queria muito ter lido Emma da Jane Austen esse ano, porque minto por aí que terminei esse livro quando na verdade pulei mais ou menos um terço dele, mas não rolou, então fica já pra meta do ano que vem. Meu motivo pra querer dar essa segunda chance mesmo ele tendo sido tão lento que me obrigou a pular esse trecho longo é que todas as adaptações de Emma são tão boas e tão divertidas que me recuso a acreditar que possam ter sido geradas por um livro que eu achei tão entediante. Também quero dar uma segunda chance pra Fúria dos Reis, segundo livro de As Crônicas de Gelo e Fogo do George R. R. Martin, porque tenho todos os livros dessa série e gosto de verdade dela, foi somente o meu pânico de calhamaços que me tombou nessa leitura.

13. Será que vem aí?: uma série que você quer começar

Tirando as séries que eu comecei a leitura do primeiro livro e acabei abandonando e que não sei se contam como séries iniciadas ou não (Tetralogia Napolitana e As Crônicas de Arthur), eu queria muito começar a ler O Ciclo Terramar da Ursula Le Guin, do qual já tenho o primeiro livro.

14. Vim: um livro que você só leu depois que o hype passou

Todos? Raramente eu leio um livro durante o hype porque fica tudo muito caro. Mas os que eu demorei mais pra ler pós-hype foram Hibisco Roxo da Chimamanda que já vinha sendo exaltado desde 2015 e eu só fui ler ano passado e Estudos Sobre Veneno da Maria V. Snyder, que eu nem sei se algum dia chegou a ser hypado de verdade no Brasil, mas na gringa já tava esquecido há uns 7 anos quando eu peguei pra ler.

15. O que será que vem aí?: uma continuação que você está animado/curioso para ler

Já falei que não gosto de continuações né? Não é minha praia, mas estou ouvindo o audiobook de One More Round da Alice Clayton que saiu de surpresa esse mês e quero muito saber como termina, porque são uns 7 anos, no mínimo, acompanhando as peripécias de Simon e Caroline na série Wallbanger então esse livro foi pra mim.

16. Não vem aí: uma série que você abandonou

Acho que se você for parar pra pensar há quanto tempo eu não continuo uma série ia chegar à conclusão de que abandonei todas as séries que já comecei na vida, mas eu sempre me iludo achando que um dia vou continuar. Uma das poucas que eu oficialmente decidi que não vou continuar é a série Montague Siblings da Mackenzi Lee, que quando eu comecei a ler era apenas um stand alone chamado The Gentleman’s Guide to Vice and Virtue que nem tinha saído no Brasil e que NÃO PRECISAVA DE CONTINUAÇÃO, mas agora já tem 3 livros e meio e quem sabe onde vai parar? The Gentleman’s Guide é um livro de fantasia de época (que me lembra muito o musical Hamilton em vários aspectos) extremamente divertido, e eu amei os personagens, principalmente o Percy e o Monty, mas a história deles era muito redondinha e a vida é muito curta pra ficar lendo continuação desnecessária.

17. Eis-me aqui: um lançamento que você está prontíssimo pra ler

Chegou recentemente o meu exemplar de O Grande Gatsby do Scott Fitzgerald na edição belíssima da Antofágica que eu comprei na pré-venda e eu quero muuuuito reler porque não lembro nada desse livro e reli uma resenha linda que escrevi aqui no blog na época que li e preciso saber o que diabos tem nesse livro que me fez escrever aquelas coisas tão bonitas. Também quero muito ler A Vida de Charlotte Brontë da Elizabeth Gaskell que saiu recentemente pela Pedrazul e que eu já comentei um pouco sobre aqui no blog. Lançamentos de livros inéditos mesmo eu acho que não tem nenhum que eu queira ler, por enquanto.

18. Pensando se vai vir: um livro estrangeiro que você quer que seja publicado aqui no brasil

Quero muuuuuito que The House in The Cerulean Sea do T.J. Klune seja publicado porque morro de vontade de ler esse livro que promete famílias sem laços de sangue e vilões que no fundo têm uma capacidade gigantesca para o amor (somente coisas que eu amo), mas não me atrevo a encarar calhamaço em inglês. Como ele ainda é relativamente recente pode ser que alguma editora brasileira faça essa caridade. Um caso um pouquinho mais complicado é o de I Capture the Castle da Dodie Smith, que já é um clássico na gringa, mas que até onde eu sei nunca fui publicado no Brasil. Esse eu acho que me atrevo a ler em inglês PORQUE É ROMANCE DE FORMAÇÃAAAO, mas ficaria morta de contente se alguma editora traduzisse.

Top 10: Livros de conforto

Por incrível que pareça a ideia pra esse post não nasceu das circunstâncias terríveis que estamos vivendo por causa do Corona Vírus, na verdade eu já tenho o rascunho dele desde 2017 e agora finalmente parece que tenho o fôlego e a inspiração necessários pra falar sobre esses livros. É bem significativo que eu tenha rascunhado esse post em 2017, porque esse foi o ano em que comecei a morar sozinha em uma cidade em que não conhecia ninguém e isso me fez precisar muuuito desses livros, porque mesmo estando longe de tudo que me era familiar e de todos que eu amava eles me serviram de lar. Aquela frase do Neil Gaiman em O Oceano no Fim do Caminho “I lived in books more than I lived anywhere else” pra mim é muito real porque me mudei muito desde criança e nunca vivi em um lugar por mais tempo do que habitei as páginas de Orgulho e Preconceito, por exemplo. Também descobri recentemente que um grande amigo perdeu tudo, inclusive todos os seus livros em uma enchente, ele que já tinha comprado todos os livros que queria ler antes de morrer. Tudo isso se juntou pra me deixar bem sentimental e querer abraçar todos os meus livros favoritos que eu chamo de casa. Perdoem a pieguice e não desistam de mim.

Persuasão – Jane Austen

Olhando os livros que escolhi pra colocar nessa lista, o que eu percebi que eles têm em comum é que todos eles são sobre conexões humanas, sobre encontrar a sua casa, as suas pessoas, e viver com elas. Por isso escolhi Persuasão em vez de Orgulho e Preconceito: a heroína Anne Elliot não tem nenhuma irmã amorosa e confidente pra compensar as falhas do resto da família, como a Elizabeth tem, ela tem apenas uma amiga de verdade e essa amiga lhe fez abrir mão do homem que ela amava muitos anos atrás e desde então ela tem vagado triste e solitária pela mansão da família. O que acontece ao longo da narrativa, muito mais do que uma história de amor entre o Wentworth e a Anne, é a história sobre como ela encontrou pessoas que a apreciam quando sua própria família não o faz, como ela encontrou na família e nos amigos do Wentworth a sua primeira rede de afeto depois de tanta solidão e incompreensão e como tudo isso fez com que ela pudesse voltar a ser feliz.

Sociedade Literária e Torta de Casca de Batata

Esse livro é o mais obviamente reconfortante dessa lista, porque a ideia de uma sociedade literária com amigos já é, em si, muito acolhedora, mas quando esses amigos são tão divertidos, leais e bondosos como os da ilha de Guernsey isso se potencializa ainda mais. Mas o livro também é reconfortante por tratar sobre o poder dos livros e ter sido escrito por uma pessoa que amou os livros durante toda a sua vida (a autora foi bibliotecária e editora antes de escrever essa obra) e dá pra sentir isso em cada página. Todas as vezes que eu releio Sociedade Literária e me vejo em meio àquelas pessoas de personalidades tão distintas que se consideram uma família e que compartilham o amor pelos livros, uma receita de torta dos tempos difíceis e uma filha, acabo me sentindo em casa, entre os meus.

Música ao Longe – Erico Veríssimo

Esse livro me encontrou no momento ideal pois eu estava exatamente na mesma fase de formação que a Clarissa passa nele e por isso tive uma identificação suprema e a certeza de estar lendo-o no momento certo, como raras vezes tive na vida. Talvez o principal presente que ele me deu tenha sido a minha relação com os personagens, que se desenvolveu ao longo dos outros livros, mas se iniciou aqui. O Vasco foi um dos meus primeiros amores literários. Ele tinha tudo que eu gostava na época, e que talvez ainda goste agora mas não queira admitir. Era inteligente, talentoso, idealista, apaixonado, sensível, moreno e vigoroso. Adolescer com a Clarissa significava, necessariamente, se encantar com ele exatamente como ela fez, porque, fala sério, você não teria escolha se ele estivesse bem ali, na mesma casa, andando debaixo da sua janela sem chapéu, te indicando livros, fazendo retratos seus, percebendo a beleza da sua árvore favorita, aparecendo de supetão em bailes pra dançar agarradíssimo com você, falando sobre coisas que realmente importam e tendo um olhar de menino pra um balão que vai embora como ele queria ir numa noite de São João. Ele também fez uma coisa muito rara: ele enxergou a Clarissa e levou a sério seus sonhos de menina, suas desilusões de menina e sua visão de mundo de menina. É claro que nos outros livros ele me deu uma raiva imensa com o tanto de bobagem que ele fez, mas no fim, graças aos céus, o Erico Veríssimo caiu em si e me deu não o final que eu queria, mas o que eu precisava. E depois de viver com esses personagens por tanto tempo e por tantas aventuras, eu só poderia considerá-los amigos muito íntimos de quem sinto saudades às vezes e volto pra visitar. E eles sempre estão lá, a Princesa do Figo Bichado e o Gato do Mato, no casarão de Jacarecanga, prontos pra me confortar e me entender.

Ella Enfeitiçada – Gail Carson Levine

Nunca falei o suficiente sobre esse livro aqui porque fiz a leitura há muito tempo, nos sombrios primórdios desse blog, quando ainda no ensino médio e escrevi apenas uma resenha patética em que nem sabia se a autora era um homem ou uma mulher. Mas isso é uma pena, porque Ella Enfeitiçada é um daqueles livros que as pessoas chamam de guilty pleasures mas na verdade são livros genuinamente bons. Eu gostaria tanto dele quando era criança como gostei como adolescente e como ainda gosto como adulta, e isso é um atestado da sua qualidade. Apesar de ser um reconto de Cinderela ele não cai no conto do vigário que muitos contos de fadas e histórias para crianças modernas caem, de retirar todos os resquícios do que é mal, feio e bruto e tornar as histórias pasteurizadas e com personagens todas boas demais. A Ella é voluntariosa, engraçada, e julgadora, enfrenta perigos reais e cresce de verdade ao longo da história, assim como o seu príncipe, que não serve só de enfeite. E acho que é justamente o crescimento dos dois que faz essa história ser tão reconfortante pra mim. É como acompanhar dois amigos queridos formando sua identidade diante dos meus olhos, com o bônus de uma atmosfera deliciosa de conto de fadas. Outro bônus importantíssimo pra mim são as cartas que o Príncipe Char e a Ella trocam nesse livro, porque eu sou obcecada por cartas e livros epistolares.

Carry On/Landline – Rainbow Rowell

Coloquei os títulos em inglês porque li os dois em inglês antes de saírem no Brasil, mas por aqui eles chegaram como Sempre em Frente e Ligações. Os dois livros não têm muita coisa em comum, mas acabei colocando-os pra ilustrar poderia colocar todos os livros da Rainbow. Carry On é um romance de fantasia, que na época em que saiu eu pensei que fosse um stand-alone, mas que agora é o primeiro de uma trilogia. O que faz esse livro ser tão reconfortante pra mim é, primeiro, sua origem, porque ele surgiu como a fanfic que a Cath de Fangirl (outro livro delicioso da autora) escreve sobre sua série de fantasia favorita, e se você, como eu, cresceu lendo fanfics slash de vilões e mocinhos sabe como é legal ver essa homenagem ao mundo das fanfics. Outro motivo é que a fantasia é o que menos importa aqui. O Simon e o Baz são personagens fascinantes, opostos, com traumas diferentes e que correm riscos diferentes e acompanhar a jornada deles de antagonistas pra apaixonados enquanto lidam com tudo isso sempre me faz pensar que talvez o que me faça não ler tanta fantasia é que todos esses elementos humanos, toda essa ternura que eu encontrei em Carry On raramente está lá. Já Landline é a história de uma casamento, de segundas chances, de tristeza que se torna cômoda e te cega pra o que você tem. Apesar de não ser o livro mais bem acabado da Rainbow, ele me conforta muito porque os personagens são tão comuns, pessoas tão possíveis, com uma história de amor tão possível e momentos de ternura tão singelos, que eu acabo voltando pra eles quando preciso acreditar na humanidade de novo. Nunca deixo de me sentir tocada quando releio a parte em que a protagonista acorda no meio da noite com uma ideia que precisa anotar para não esquecer, mas não consegue porque está sonolenta demais e o marido, também sonolento, tranquiliza ela dizendo que vai lembrar, e na manhã seguinte ele lembra.

Na Ilha – Tracey Garvis Graves

Eu falei pouco sobre esse livro aqui no blog, mas ele é um dos exemplos de ritmo mais perfeito que eu já li, talvez por ter muitos diálogos, mas acho que principalmente porque a autora soube dosar ação e reviravoltas durante todo a narrativa, de modo que que nunca dá vontade de parar. Na Ilha narra a história de uma professora de reforço e um garoto de 16 anos que era seu aluno que sobrevivem à queda de um avião e ficam presos em uma ilha deserta na Ásia. O que me conforta nesse livro é que essas pessoas vivem situações terríveis e perigosas nessa ilha, mas o elo humano que elas criam está lá pra confortá-las, pra tornar tudo aquilo um pouco menos horrível, um pouco mais suportável, é óbvio que ele é irrealista, mas quem precisa de realidade quando se pode ter pessoas crescendo juntas em situações adversas e desenvolvendo uma relação que não seria possível no mundo julgador normal, mas que elas lutam pra manter nele mesmo assim?

Always and Forever Lara Jean/Shug – Jenny Han 

Esse caso é bem parecido com o da Rainbow Rowell: a Jenny Han tem algumas características na escrita dela que são inerentemente reconfortantes pra mim e é por isso que estou citando dois livros dela. Always and Forever Lara Jean é o último livro da trilogia do Peter e da Lara Jean que tem sido adaptada pra filmes péssimos da Netflix, e escolhi ele ao invés dos primeiros livros não só porque ele tem um valor sentimental enorme pra mim (passei um mês inteiro relendo-o obsessivamente porque ele saiu justo no dia que saí da casa dos meus pais pra morar em uma cidade estranha e trabalhar no meu primeiro emprego adulto), mas também porque de todos os livros da trilogia eu acho que esse é o que melhor condensa a principal habilidade da Jenny: que é a criar good boys. A literatura jovem-adulta está cheia de exemplos de bad boys romantizados e relacionamentos disfuncionais tratados como uma meta a ser atingida, mas o que a Jenny faz é criar um personagem que é um bom garoto, apesar de talvez não ser o mais inteligente, ou o mais cheio de personalidade, mas um bom garoto, que é gentil não só com as garotas que ele gosta, que às vezes é bobo e que ainda acredita nas coisas. Shug também é um caso desses. Ele se direciona pra um público ainda mais jovem e é tocante pra mim que a Jenny entenda e escreva tão docemente sobre esses primeiros amores tão envolvidos em implicância . Jack Connolly, o mocinho, arranja brigas na escola e não é muito inteligente, mas ele é bom, e o que mais se pode pedir de um garoto?

Um Mais Um – Jojo Moyes

Esse livro não é um dos que eu mais revisito, talvez porque seja um dos que menos faz sentido reler apenas partes isoladas, como eu costumo fazer com os outros, mas nem por isso é menos reconfortante pra mim. Um dos motivos pra ele ser tão querido é porque trata de uma das coisas sobre as quais eu mais adoro ler: famílias constituídas por amor, não por sangue. A protagonista, Jess, trabalha como faxineira para sustentar sua filha, um cachorro idoso e o filho do primeiro casamento de seu ex-marido, que acabou ficando sob sua responsabilidade depois de muitas reviravoltas da vida. Acompanhar uma pessoa que vive uma vida como a nossa, em constante pânico de não poder pagar as contas ou alimentar seus dependentes no capitalismo tardio é bem raro nos livros que eu leio, nos quais todo mundo parece ter resolvido esses problemas mais prosaicos e estar muito mais preocupado com a abstração. É por isso sempre me aquece o coração ler sobre a Jess tentando (e às vezes falhando) ser uma pessoa boa e otimista,  não deixar faltar nada pra sua filha (nem o pão nem o amor nem as possibilidades de realizar seus sonhos) e nos intervalos ter receio e desejo na mesma medida por um romance que diminua o vazio dos dias de luta, por um par de ombros pra descansar a cabeça cansada no fim do dia, por alguém que a faça sentir um pouco menos sozinha e responsável por todo mundo. É um livro praquelas horas em que você não quer pensar sobre questões filosófico-sociais importantes, e só quer acreditar que pessoas comuns como nós, que vivem na periferia do capitalismo, podem viver uma vida bonita.

O Céu Está em Todo Lugar – Jandy Nelson

Já faz algum tempo que eu não releio esse livro, mas ele sempre vai ser reconfortante pra mim porque é um livro sobre pessoas sentimentais, mulheres intensas, gente que vive de acordo com aquele verso do e.e. cummings: “the thing is to eat flowers and not to be afraid”. A avô e a neta do livro choram demais, releem O Morro dos Ventos Uivantes demais, fogem demais, se apaixonam demais, escrevem poemas demais, são cafonas e extremadas. Elas vivem do seu jeito, com um tio bigodudo também exagerado, plantando flores, pintando mulheres tristes e tocando clarinete. Isso me tocou muito desde a primeira vez que li porque fui uma criança sensível demais, sensível ao ponto de ter precisado reprimir muito da minha personalidade pra ser capaz de sobreviver num mundo que foi feito pra pessoas cínicas, e porque eu e minha família sempre fomos impulsivos, fujões e intensos, e isso me gerou muito julgamento e muita vontade de ser como as outras pessoas e não uma nômade que lia demais e chorava demais. Ver a protagonista de O Céu Está em Todo Lugar sendo tudo isso e sendo tão encantadoramente sentimental me fez sentir validada por ser uma dessas pessoas pra quem os sentimentos são os únicos fatos e que comete muitos erros por falta de objetividade, por sentir mais do que pensar sobre qualquer coisa. No fundo, esse livro me ajudou a aceitar que não há nada que eu possa fazer contra a minha personalidade, the thing is to eat flowers and not to be afraid.

Amanhã Você Vai Entender – Rebecca Stead

Esse é um dos livros que eu menos reli nessa lista e um dos que eu menos sei explicar porque me conforta, mas só de olhar os prédios em relevo da capa dele já me vem uma sensação boa. Ele é uma espécie de ficção científica pra o público ali por volta dos 12 anos, mas acaba sendo também romance de formação e o que acho reconfortante nele é a voz narrativa da protagonista, que é uma menina independente pra sua idade que vai se desenvolvendo e observando o mundo à sua volta de um jeito muito gostoso de acompanhar. Ela também é do meu grupo de leitores obsessivos de um livro só, o que é um bônus, e o livro tem desses momentos e personagens que demonstram uma capacidade de entender a beleza e a ternura das pequenas coisas que é o que atraiu em muitos dessa lista. Queria muito que esse livro fosse mais valorizado porque eu o teria adorado ainda mais se o tivesse lido mais nova e queria que mais meninas na idade apropriada tivessem a experiência de ler heroínas tão relatáveis em histórias tão boas.

A Mulher do Viajante no Tempo – Audrey Niffenegger

Uma das maiores tragédias da história desse blog é que resenhei esse livro em uma época em que eu não sabia resenhar, então ao invés de ter um registro entusiasmado das minhas impressões originais sobre ele tudo que eu tenho são uns três parágrafos sem coerência que no fundo não dizem absolutamente nada. Mas pelo menos a minha memória registrou o quanto esse livro é incrível, e, ao contrário de muitos livros dessa lista, eu acredito que ele realmente tem algum real valor literário. O fato de ele conseguir isso e ainda ser reconfortante atesta muito sobre a habilidade da autora de ser realista sem ser cínica, porque muitas vezes eu tenho a impressão de que quanto mais alguém leva a sério a literatura mais acredita que livros bons são apenas aqueles completamente desprovidos de sentimentos “comuns” e que são mais um exercício estético distanciado e uma tentativa de registrar grandes pensamentos filosóficos sobre “as grandes questões universais” do que qualquer outra coisa. Esse livro é, essencialmente, sobre amor, sobre essa coisa terrível, dolorosa e bonita que é sempre voltar para outro ser humano, apesar de tudo, e nesse caso o “tudo” são viagens no tempo que fazem com que um conheça o outro quando o outro ainda não o conheceu e que haja sempre muita espera e muita renúncia na história deles. Mas não é só por esse livro conter sentimentos sem ser sentimental que eu o adoro, também gosto do ritmo, da estrutura temporal complexa, dos diálogos muito bem escritos, dos personagens extremamente vivos e da declaração de amor gigantesca que ele é. Acabo sempre voltando pra ele porque reencontrar o Henry e a Clare me faz acreditar em conexões humanas genuínas, que se distanciam das expectativas irrealistas e piegas de um extremo das pessoas e também do cinismo pessimista do outro extremo.

 

O Que Estou Lendo: Daisy Jones And The Six – Taylor Jenkins Reid

Finalmente o hype da Taylor Jenkins Reid me pegou. Porém, como eu já tinha comentado na minha TBR de ebooks em que coloquei esse livro, a obra mais famosa da Taylor, que é Os Sete Maridos de Evelyn Hugo, ficou um pouco saturada pra mim por conta da quantidade absurda de vídeos entusiásticos que vi sobre ele no booktube, de modo que resolvi começar pelo irmã mais subestimada, Daisy Jones. Essa leitura provavelmente não aconteceria esse ano se não fosse pelo acaso de encontrar ele pra troca no Skoob quando eu tinha créditos disponíveis porque não estou sendo uma leitora de ebooks muito eficiente (é só olhar pro encalhamento absoluto de A Canção de Aquiles), mas essa sorte aconteceu e o livro chegou novinho, colorido e empolgante, de modo que aqui estou eu ouvindo Cocaine do Eric Clapton (e mais umas trocentas músicas de astros do rock dos anos 60/70/80) enquanto escrevo isso porque já estou envolvidíssima nesse universo.

O mundo do rock já e dos músicos lendários sempre me interessou porque meu pai gostava muito de rock antigo e lá por volta dos 12 anos, quando eu finalmente consegui internet, fiquei completamente obcecada por figuras talentosas e trágicas como o Jeff Buckley e o Kurt Cobain, ao ponto de ter pastas inteiras de fotos raras deles no meu computador e de ter lido e adorado Mais Pesado Que o Céu, a biografia do Kurt Cobain escrita pelo Charles R. Cross. Meu interesse por essas pessoas sempre foi bem mais relacionado a esse status quase mitológico delas do que por sua música (embora eu adorasse tanto as músicas do Jeff quanto do Nirvana), tanto é que mesmo nunca tendo gostado muito dos Rolling Stones meu sonho na época era ler a autobiografia do Keith Richards, da qual lembro de ter lido um trecho sobre a infância dele em uma revista antiga que até hoje me parece muito bonito (não sei se esse sonho algum dia vai se realizar porque ela tem 640 páginas e eu agora tenho consciência de que a vida é curta demais pra livros desse tamanho).

Mas eu estou divagando, o que importa aqui é que Daisy Jones and The Six, apesar de ser um livro ficcional, que imita uma pesquisa jornalística pra remontar a biografia de uma banda, poderia muito bem ser real, porque como obcecada pelo mundinho rock clássico e figuras trágicas da música eu já li várias histórias de egos de guitarristas/vocalistas bonitos, drogados e meio deprimidos que gastam demais e se acham mais talentosos do que realmente são. A diferença aqui é que na vida real raramente existe alguma mulher nessas bandas, ainda mais uma que seja a figura lendária principal, então estou achando interessante ver como a Taylor está trazendo todos esses elementos de uma cultura severamente masculinizada e machista pra história de uma mulher. Isso foi especialmente interessante quando ela diz que não queria ser a musa de um cara qualquer, ela queria escrever suas próprias músicas, o que seria algo interessante de ver em musas famosas como a Pattie Boyd por exemplo (que inspirou Something dos Beatles e Layla do Eric Clapton).

Como fazia muito tempo que eu não lia um best-seller de ficção (o último best-seller que eu li foi provavelmente O Castelo de Vidro da Jeanette Walls, que é uma memória), estou estranhando um pouco essa linguagem mais rápida e simplória, o que não é um defeito porque é absolutamente necessária pro formato e pra proposta do livro de registrar esses depoimentos ficcionais dos membros da banda e das pessoas envolvidas com a Daisy, mas não deixa de ser estranho. Na verdade, está me fazendo me perdoar pelo meu ritmo de leitura patético dos últimos anos, porque os livros que eu tenho lido são bem mais lentos do que os que eu costumava ler e se eu tivesse continuado a ler esse tipo de livro provavelmente ainda leria rápido como está acontecendo com Daisy Jones.

Esse formato do livro também me deixou com um pé atrás em relação à construção dos personagens, porque me parecia arriscado e com alto potencial pra dar errado fazer essa construção exclusivamente por meio de depoimentos que muitas vezes duram uma linha, mas até agora na minha leitura (que ainda está muito no início) um dos protagonistas, o Billy Dunne, já está sendo bem estabelecido como o protótipo do Robert Plant: bonito, sexy, carismático e a figura em torno do qual todos os outros integrantes gravitam. A Daisy ainda é um mistério porque ela só parece uma garota que não recebeu atenção suficiente dos pais e não sei onde isso vai levar em termos de personalidade. Também estou interessada no relacionamento entre o Billy e a Camila, que é a namorada da juventude e aparentemente esposa na época dos depoimentos, porque como é que um astro do rock mantém uma mulher por todo esse tempo, incluindo o pico da carreira? Os outros personagens por enquanto são todos tão planos quanto eu esperava de frutos de depoimentos de uma linha, mas vamos ver se isso melhora.

Enfim, estou bem empolgada com a leitura e acho que era isso que eu precisava no momento, depois de leituras de não-ficção e releituras: um bom e velho livro rápido e intenso.

Especial Jane Austen – O Retorno

Talvez vocês não saibam, mas eu escrevi uma série de posts especiais sobre a Jane Austen por aqui em 2015. Nesses posts eu falei sobre os livros, as adaptações e tudo mais que consumi sobre a Jane Austen, além de experiências pessoas como fã na internet fazendo amizade com outros fãs na internet. São posts que me causam muito orgulho e que eu gosto de reler de vez em quando porque eles registram a minha história literária mais prolífica, meu amor mais duradouro e constante nos livros. De lá pra cá, no entanto, descobri várias outras coisas, assisti novas adaptações e li outros livros e agora quero fazer um novo balanço não só das coisas que realmente consumi nesse meio tempo, mas também das que adquiri ou descobri e quero consumir. Vai ser tudo fora de ordem e muito longo, mas perdoem a bagunça e não desistam de mim.

Sanditon (2019)

Sanditon é uma série britânica com 8 episódios baseada no romance inacabado de mesmo nome que teria sido o último que a Jane escreveu. Fica muito claro o ponto da história em que ela deixa de ser fielmente baseada na obra da Austen e passa a permitir que a criatividade dos roteiristas corra solta, apesar do fato de eu ainda não ter lido o livro pra ter certeza. Esse ponto é bem prematuro, ocorre no começo do primeiro episódio, que é engraçado e sutil como a Austen sempre foi, enquanto o resto da série é bem mais dramática do que ela jamais seria e trata de temas que ela jamais trataria, como racismo/escravidão e sexo. A série inclusive tem cenas relativamente explícitas de sexo que podem ofender a galera mais puritana que acredita que os livros da autora são desprovidos de qualquer sombra de sexualidade. O ritmo da série é bom e o elenco também, mas há muita coisa desnecessária para alongar a história e deixar espaço pra uma segunda temporada que nem sei se vai acontecer. Porém, acho que a questão principal é: Não é Austen. Se você for assistir esperando que seja um sétima obra perdida da autora, vai se decepcionar profundamente. Em alguns aspectos ela segue o estilo de várias outras séries de época divertidas de assistir e em outros atualiza esse estilo de romanção regenciano pra torná-lo mais adequado aos olhos do século XXI. Não é a minha adaptação preferida, mas é sempre bom ver a Austen ganhando vida nova.

Emma (2020)

Emma é uma das obras da Austen que mais recebeu adaptações e eu até entendo o apelo como mídia visual porque em um espaço mais reduzido de tempo todas os detalhes mais lentos do cotidiano daquelas pessoas que tornaram a leitura do livro bem arrastada pra mim podem ser excluídos e a história se torna um coming of age bem redondinho e divertido, como nesse caso. Visualmente essa é uma das minhas adaptações favoritas da Austen, porque além de ter cenários belíssimos, as cores são vibrantes e não há nenhuma preocupação com precisão história nos figurinos e penteados dos personagens, o que (GRAÇAS A DEUS) nos impede de ter mais uma adaptação cheia daqueles vestidos regencianos brancos de algodão horrorosos acinturados logo abaixo do peito e aqueles penteados com cachos de ovelha. Apesar de ser bem fiel ao texto original, o filme deu liberdade aos atores pra usarem esse texto de formas bem criativas, e a atuação da Anya Taylor-Joy é especialmente divertida, mesmo sendo completamente fora dos limites que a discrição regenciana permitiria. A liberdade também se estendeu pra algumas insinuações sexuais que no trailer pareceram bem exageradas, mas no filme em si não me incomodaram nem um pouco e pra vários momentos de desconstrução da pose dos cavalheiros e das damas, como a Emma levantando a parte de trás do vestido pra tomar um ar enquanto passa pelo processo longuíssimo de se arrumar, ou o Mr. Knightley arrancando a gravata e se jogando no chão dramaticamente quando pensa que a Emma está apaixonada por outro. Resumindo, é uma das minhas adaptações favoritas, mas definitivamente não vai agradar os puristas de Austen.

Bride and Prejudice (2004)

Eu já perdi as contas de quantas coisas inspiradas em Orgulho e Preconceito eu já assisti/li, então quase esqueci do adorável Bride and Prejudice, que traz o clássico pra realidade de uma família indiana em 2004. É um filme bom? Definitivamente não. As atuações são meio toscas, a qualidade de imagem parece ser de 1982 e algumas falas me deram vergonha alheia, mas é muito divertido, colorido e festivo. As danças e a cultura indiana se encaixaram muito bem na história e fizeram ela fazer mais sentido no século XXI do que faria na nossa cultura, por exemplo, e os coadjuvantes são hilários. Então se você, como eu, às vezes gosta de um lixo assumido, vá em frente com esse filme.

O Clube de Leitura de Jane Austen (2007)

Esse filme não é bem uma adaptação de Jane Austen, mas os personagens dele encontram eco das suas próprias histórias nas obras da autora enquanto leem seus livros pra discuti-los em reuniões de um clube do livro. Eu sou uma completa cadelinha de enredos sobre a importância da leitura na vida de grupos de pessoas, especificamente sobre clubes do livro, então é óbvio que mesmo tendo seus problemas é um dos meus filmes favoritos do “universo expandido austeneano”. Os personagens que representam Persuasão foram especialmente marcantes pra mim porque realmente incorporam uma história de segundas chances dentro do seu casamento, e têm a cena mais emocionante do filme em que as palavras do livro da Jane são essenciais. De resto é um filme divertido e que me trouxe um sentimento de calor humano e acolhimento enorme em ver aquele círculo de pessoas se aproximar pelo amor à literatura e à Austen em específico. Todo mundo diz que o filme é bem melhor que o livro que lhe deu origem, então tenho um pouco de receio de ler.

Mansfield Park – Jane Austen

Na época da minha série de posts original, Mansfield Park era o único romance completo da Austen que eu não tinha lido e hoje continua sendo o único do qual eu não assisti nenhuma adaptação. Acabei lendo-o em 2016 e até hoje tenho um rascunho não terminado de resenha pra ele. Esse livro tem um tom bem diferente do resto dos livros da autora, em vez de risonho e irônico ele é julgador e moralista, em grande parte devido ao fato de a característica definidora da protagonista Fanny Price ser justamente a sua moralidade caduca. Essa moralidade acaba sendo premiada no final, tanto na Fanny quanto no INSUPORTÁVEL do Edmund, que é o pior mocinho da Austen. Enquanto lia torci mil vezes mais pra que a Fanny ficasse com o Henry Crawford, um personagem muito mais interessante, carismático e multi-facetado, mas óbvio que isso não aconteceria porque ele precisava ser castigado pela sua imoralidade. Enfim, é um romance que gostei muito de ler e analisar em contraponto ao resto da obra da autora, e que é, como sempre, muito bem escrito, mas os personagens são muito insossos. Ainda quero postar a minha resenha inacabada desse livro e provavelmente vou fazer isso depois de assistir a adaptação, então aguardem.

Persuasion

Vou fazer um post mais completo sobre a experiência de ler Austen no original em inglês que estou tendo nesse exato momento e que está sendo maravilhosa, então fica aqui apenas o registro da diferença que a língua faz porque senti como se a prosa da Austen tivesse um tom muito mais pessoal em inglês do que jamais teve em Português. É muito bom reencontrar uma história que eu amo tanto e poder tentar extrair das palavras originais da autora novos sentidos que me escaparam nas interpretações dos tradutores.

Quero Ler

Agora vamos aos livros da Austen ou sobre a Austen que eu quero consumir nos próximos tempos pra completar a grande experiência austeniana.

A Portrait of Jane Austen – Cecil David

Descobri esse livro nos textos de apoio da minha edição em inglês de Persuasão (que são incríveis), e tive que baixar um PDF porcamente escaneado porque o livro não está mais disponível em lugar nenhum. Pelo que eu vi ele é não só uma biografia muito bem pesquisada, mas um retrato histórico rico da época da Jane e uma análise interessante sobre os livros dela. As ilustrações e fotos são fascinantes pra uma pessoa que ama história como eu, então tenho muitos motivos pra querer lê-lo o mais rápido possível.

Jane’s Fame – How Jane Austen Conquered The World – Claire Harman

Esse livro (que também descobri nos textos de apoio de Persuasion) eu provavelmente não vou ler por inteiro porque é gigantesco, em inglês e não ficcional, mas definitivamente tenho interesse em ler por alto para descobrir as origens históricas da popularidade gigantesca da Jane, que não ocorreu em vida da autora.

A Truth Universally Acknowledged: 33 Great Writers on Why We Read Jane Austen – Susannah Carson

ALGUÉM ME ARRANJA ESSE LIVRO, UM PDF ESCANEADO DELE, QUALQUER COISAAAAA. Apesar de não ter conseguido encontrá-lo em lugar nenhum fica aqui a esperança de conseguir encontrá-lo e ler as opiniões de outros grandes autores sobre a Austen (incluindo o C.S. Lewis).

Eu Fui a Melhor Amiga de Jane Austen – Cora Harrison

Esse livro me passa uma vibe totalmente As Memórias Perdidas de Jane Austen da Syrie James que eu li há alguns anos e do qual não lembro muita coisa, exceto que era divertido e bem fiel ao estilo da Jane, mas acho que vai ser parecido com Eu fui a melhor amiga… por ter essa premissa de ser uma espécie de biografia romanceada que puxa muito mais pro lado ficcional. Entre os livros dessa lista não é o que eu tenho mais pressa pra ler, mas provavelmente vai ser o que eu vou conseguir em edição física mais rápido porque sempre está disponível para troca no Skoob.

Lady Susan/Os Watsons/Sanditon – Jane Austen

Comprei essa ediçãozinha da LP&M Pocket numa livraria há algum tempo atrás e quero muito ler Sanditon e Lady Susan pra ter uma ideia sobre a Jane fora do cânone dos 6 livros terminados. Tenho esperança de conseguir ler no ano que vem, vamos ver se consigo.