Especial Jane Austen – O Retorno

Talvez vocês não saibam, mas eu escrevi uma série de posts especiais sobre a Jane Austen por aqui em 2015. Nesses posts eu falei sobre os livros, as adaptações e tudo mais que consumi sobre a Jane Austen, além de experiências pessoas como fã na internet fazendo amizade com outros fãs na internet. São posts que me causam muito orgulho e que eu gosto de reler de vez em quando porque eles registram a minha história literária mais prolífica, meu amor mais duradouro e constante nos livros. De lá pra cá, no entanto, descobri várias outras coisas, assisti novas adaptações e li outros livros e agora quero fazer um novo balanço não só das coisas que realmente consumi nesse meio tempo, mas também das que adquiri ou descobri e quero consumir. Vai ser tudo fora de ordem e muito longo, mas perdoem a bagunça e não desistam de mim.

Sanditon (2019)

Sanditon é uma série britânica com 8 episódios baseada no romance inacabado de mesmo nome que teria sido o último que a Jane escreveu. Fica muito claro o ponto da história em que ela deixa de ser fielmente baseada na obra da Austen e passa a permitir que a criatividade dos roteiristas corra solta, apesar do fato de eu ainda não ter lido o livro pra ter certeza. Esse ponto é bem prematuro, ocorre no começo do primeiro episódio, que é engraçado e sutil como a Austen sempre foi, enquanto o resto da série é bem mais dramática do que ela jamais seria e trata de temas que ela jamais trataria, como racismo/escravidão e sexo. A série inclusive tem cenas relativamente explícitas de sexo que podem ofender a galera mais puritana que acredita que os livros da autora são desprovidos de qualquer sombra de sexualidade. O ritmo da série é bom e o elenco também, mas há muita coisa desnecessária para alongar a história e deixar espaço pra uma segunda temporada que nem sei se vai acontecer. Porém, acho que a questão principal é: Não é Austen. Se você for assistir esperando que seja um sétima obra perdida da autora, vai se decepcionar profundamente. Em alguns aspectos ela segue o estilo de várias outras séries de época divertidas de assistir e em outros atualiza esse estilo de romanção regenciano pra torná-lo mais adequado aos olhos do século XXI. Não é a minha adaptação preferida, mas é sempre bom ver a Austen ganhando vida nova.

Emma (2020)

Emma é uma das obras da Austen que mais recebeu adaptações e eu até entendo o apelo como mídia visual porque em um espaço mais reduzido de tempo todas os detalhes mais lentos do cotidiano daquelas pessoas que tornaram a leitura do livro bem arrastada pra mim podem ser excluídos e a história se torna um coming of age bem redondinho e divertido, como nesse caso. Visualmente essa é uma das minhas adaptações favoritas da Austen, porque além de ter cenários belíssimos, as cores são vibrantes e não há nenhuma preocupação com precisão história nos figurinos e penteados dos personagens, o que (GRAÇAS A DEUS) nos impede de ter mais uma adaptação cheia daqueles vestidos regencianos brancos de algodão horrorosos acinturados logo abaixo do peito e aqueles penteados com cachos de ovelha. Apesar de ser bem fiel ao texto original, o filme deu liberdade aos atores pra usarem esse texto de formas bem criativas, e a atuação da Anya Taylor-Joy é especialmente divertida, mesmo sendo completamente fora dos limites que a discrição regenciana permitiria. A liberdade também se estendeu pra algumas insinuações sexuais que no trailer pareceram bem exageradas, mas no filme em si não me incomodaram nem um pouco e pra vários momentos de desconstrução da pose dos cavalheiros e das damas, como a Emma levantando a parte de trás do vestido pra tomar um ar enquanto passa pelo processo longuíssimo de se arrumar, ou o Mr. Knightley arrancando a gravata e se jogando no chão dramaticamente quando pensa que a Emma está apaixonada por outro. Resumindo, é uma das minhas adaptações favoritas, mas definitivamente não vai agradar os puristas de Austen.

Bride and Prejudice (2004)

Eu já perdi as contas de quantas coisas inspiradas em Orgulho e Preconceito eu já assisti/li, então quase esqueci do adorável Bride and Prejudice, que traz o clássico pra realidade de uma família indiana em 2004. É um filme bom? Definitivamente não. As atuações são meio toscas, a qualidade de imagem parece ser de 1982 e algumas falas me deram vergonha alheia, mas é muito divertido, colorido e festivo. As danças e a cultura indiana se encaixaram muito bem na história e fizeram ela fazer mais sentido no século XXI do que faria na nossa cultura, por exemplo, e os coadjuvantes são hilários. Então se você, como eu, às vezes gosta de um lixo assumido, vá em frente com esse filme.

O Clube de Leitura de Jane Austen (2007)

Esse filme não é bem uma adaptação de Jane Austen, mas os personagens dele encontram eco das suas próprias histórias nas obras da autora enquanto leem seus livros pra discuti-los em reuniões de um clube do livro. Eu sou uma completa cadelinha de enredos sobre a importância da leitura na vida de grupos de pessoas, especificamente sobre clubes do livro, então é óbvio que mesmo tendo seus problemas é um dos meus filmes favoritos do “universo expandido austeneano”. Os personagens que representam Persuasão foram especialmente marcantes pra mim porque realmente incorporam uma história de segundas chances dentro do seu casamento, e têm a cena mais emocionante do filme em que as palavras do livro da Jane são essenciais. De resto é um filme divertido e que me trouxe um sentimento de calor humano e acolhimento enorme em ver aquele círculo de pessoas se aproximar pelo amor à literatura e à Austen em específico. Todo mundo diz que o filme é bem melhor que o livro que lhe deu origem, então tenho um pouco de receio de ler.

Mansfield Park – Jane Austen

Na época da minha série de posts original, Mansfield Park era o único romance completo da Austen que eu não tinha lido e hoje continua sendo o único do qual eu não assisti nenhuma adaptação. Acabei lendo-o em 2016 e até hoje tenho um rascunho não terminado de resenha pra ele. Esse livro tem um tom bem diferente do resto dos livros da autora, em vez de risonho e irônico ele é julgador e moralista, em grande parte devido ao fato de a característica definidora da protagonista Fanny Price ser justamente a sua moralidade caduca. Essa moralidade acaba sendo premiada no final, tanto na Fanny quanto no INSUPORTÁVEL do Edmund, que é o pior mocinho da Austen. Enquanto lia torci mil vezes mais pra que a Fanny ficasse com o Henry Crawford, um personagem muito mais interessante, carismático e multi-facetado, mas óbvio que isso não aconteceria porque ele precisava ser castigado pela sua imoralidade. Enfim, é um romance que gostei muito de ler e analisar em contraponto ao resto da obra da autora, e que é, como sempre, muito bem escrito, mas os personagens são muito insossos. Ainda quero postar a minha resenha inacabada desse livro e provavelmente vou fazer isso depois de assistir a adaptação, então aguardem.

Persuasion

Vou fazer um post mais completo sobre a experiência de ler Austen no original em inglês que estou tendo nesse exato momento e que está sendo maravilhosa, então fica aqui apenas o registro da diferença que a língua faz porque senti como se a prosa da Austen tivesse um tom muito mais pessoal em inglês do que jamais teve em Português. É muito bom reencontrar uma história que eu amo tanto e poder tentar extrair das palavras originais da autora novos sentidos que me escaparam nas interpretações dos tradutores.

Quero Ler

Agora vamos aos livros da Austen ou sobre a Austen que eu quero consumir nos próximos tempos pra completar a grande experiência austeniana.

A Portrait of Jane Austen – Cecil David

Descobri esse livro nos textos de apoio da minha edição em inglês de Persuasão (que são incríveis), e tive que baixar um PDF porcamente escaneado porque o livro não está mais disponível em lugar nenhum. Pelo que eu vi ele é não só uma biografia muito bem pesquisada, mas um retrato histórico rico da época da Jane e uma análise interessante sobre os livros dela. As ilustrações e fotos são fascinantes pra uma pessoa que ama história como eu, então tenho muitos motivos pra querer lê-lo o mais rápido possível.

Jane’s Fame – How Jane Austen Conquered The World – Claire Harman

Esse livro (que também descobri nos textos de apoio de Persuasion) eu provavelmente não vou ler por inteiro porque é gigantesco, em inglês e não ficcional, mas definitivamente tenho interesse em ler por alto para descobrir as origens históricas da popularidade gigantesca da Jane, que não ocorreu em vida da autora.

A Truth Universally Acknowledged: 33 Great Writers on Why We Read Jane Austen – Susannah Carson

ALGUÉM ME ARRANJA ESSE LIVRO, UM PDF ESCANEADO DELE, QUALQUER COISAAAAA. Apesar de não ter conseguido encontrá-lo em lugar nenhum fica aqui a esperança de conseguir encontrá-lo e ler as opiniões de outros grandes autores sobre a Austen (incluindo o C.S. Lewis).

Eu Fui a Melhor Amiga de Jane Austen – Cora Harrison

Esse livro me passa uma vibe totalmente As Memórias Perdidas de Jane Austen da Syrie James que eu li há alguns anos e do qual não lembro muita coisa, exceto que era divertido e bem fiel ao estilo da Jane, mas acho que vai ser parecido com Eu fui a melhor amiga… por ter essa premissa de ser uma espécie de biografia romanceada que puxa muito mais pro lado ficcional. Entre os livros dessa lista não é o que eu tenho mais pressa pra ler, mas provavelmente vai ser o que eu vou conseguir em edição física mais rápido porque sempre está disponível para troca no Skoob.

Lady Susan/Os Watsons/Sanditon – Jane Austen

Comprei essa ediçãozinha da LP&M Pocket numa livraria há algum tempo atrás e quero muito ler Sanditon e Lady Susan pra ter uma ideia sobre a Jane fora do cânone dos 6 livros terminados. Tenho esperança de conseguir ler no ano que vem, vamos ver se consigo.

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